Frutose pode engordar mais que açúcar comum

Um estudo realizado na Alemanha pode ajudar a derrubar a crença de que a frutose engorda menos que outros adoçantes. Experimentos feitos com roedores mostraram que as bebidas adoçadas com o chamado “açúcar das frutas” podem provocar um maior acúmulo de gordura no corpo do que aquelas adoçadas com açúcar comum (sacarose). O estudo sugere ainda que o ganho de peso não depende unicamente da quantidade de calorias ingeridas, mas também da qualidade dos alimentos.
 
null Os experimentos, conduzidos por cientistas alemães e norte-americanos, consistiram em alimentar ratos adultos com grãos e diferentes tipos de bebida. Cada animal consumia diariamente o mesmo número de calorias (cerca de 110 kcal). Aqueles que tomavam bebidas mais energéticas comiam menos ração e vice-versa. Os animais foram divididos em quatro grupos, de acordo com o líquido tomado: solução de água com frutose, de concentração semelhante à dos refrigerantes vendidos nos Estados Unidos (61,5 kcal para cada 100 ml); refrigerante europeu, adoçado com açúcar comum (41,7 kcal/100 ml); refrigerante diet , com adoçantes artificiais (1,2 kcal/100 ml) e água (grupo de controle).
                       
No primeiro dia da dieta, os ratos pesavam, em média, 39 gramas. Após 73 dias de alimentação monitorada, os roedores foram pesados e submetidos a exames de sangue e de ressonância magnética, entre outros. Posteriormente, foram sacrificados para que seu fígado fosse analisado. Os resultados mostram que o grupo que bebeu a solução concentrada de frutose apresentou um maior aumento de massa, chegando a engordar, em média, nove gramas, enquanto os outros adquiriram menos de cinco.
 
Esse aumento foi confirmado na análise dos percentuais de gordura no corpo e no fígado dos ratos do grupo da frutose, maiores do que entre os demais. O farmacêutico Mauro Sola Penna, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica a importância da análise hepática: “no fígado, os açúcares são convertidos em ácidos graxos que darão origem ao processo de armazenamento de gordura”.
 
Apesar de terem ingerido praticamente o mesmo valor calórico, os animais aproveitaram-no de maneira distinta. Os resultados indicam que a frutose pura é consumida de forma diferente pelo organismo dos ratos, convertendo-se em mais gordura do que o açúcar comum, os adoçantes artificiais e os carboidratos e proteínas presentes nos grãos.

No Brasil, os refrigerantes são adoçados com sacarose proveniente da cana-de-açúcar, composta por 50% de glicose e 50% de frutose. Mas a frutose pura – que não é extraída das frutas, mas sim do xarope de milho – também é comercializada como adoçante.
Algumas pessoas acreditam que é possível emagrecer com a frutose, pois ela apresenta um sabor mais doce com o mesmo valor energético da sacarose. Assim, seriam necessárias menos colheres de açúcar (ou seja, menos calorias) para obter o mesmo sabor em suas bebidas.

“Agora, pretendemos descobrir por que isso acontece, descrevendo os mecanismos bioquímicos do processamento de cada tipo de açúcar no organismo”, conta Hella Jürgens, pesquisadora do Instituto Alemão de Nutrição Humana e autora do estudo publicado em julho na revista Obesity Research . Jürgens trabalhou em parceria com cientistas da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, onde a equipe deve repetir os experimentos. Ali, os refrigerantes mais consumidos são adoçados com altos níveis de frutose e grande parte da população sofre de obesidade.


Lia Brum

Ciência Hoje On-line
15/08/05