Gaúcha bem vista

Em média, a cada dois dias uma nova espécie da flora da mata atlântica é descrita pelos botânicos. Mas, de modo geral, esses ‘achados’ são plantas de pequeno porte ou estão em áreas de difícil acesso. Por isso, a vistosa árvore com cerca de oito metros de altura, avistada na região do planalto da Serra Geral sul-rio-grandense, é considerada uma descoberta surpreendente.

De modo geral, novas espécies da flora da mata atlântica são plantas de pequeno porte ou estão em áreas de difícil acesso

Batizada com o nome de Mimosa sobralii, a planta foi descrita em artigo publicado pelos botânicos Osmar dos Santos Ribas e Martin Grings na revista científica Phytotaxa, especializada em sistemática vegetal. Ribas, que é curador do Museu Botânico Municipal de Curitiba, conta que uma amostra da planta já havia sido coletada no início dos anos 90 pelo botânico Marcos Sobral, atualmente vinculado à Universidade Federal de São João del Rei (MG). À época, Sobral imaginava tratar-se de uma espécie já conhecida do mesmo gênero.

Mas, comparando aspectos morfológicos da árvore com a morfologia de outras espécies do gênero, Ribas e Grings (pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul) verificaram que a primeira apresentava características diferentes e distintivas. “Isso nos deu certeza de que estávamos de fato diante de uma nova espécie”, conta Ribas. A denominação da nova árvore, escolhida por seus dois descritores, faz uma deferência ao botânico que primeiro a avistou.

Características

M. sobralii assemelha-se à árvore chamada popularmente de maricá (Mimosa bimucronata), mas apresenta diferenças em sua estrutura, na forma das folhas e na coloração das flores. As flores de M. sobralii são amarelas (as de M. bimucronata são brancas), e suas folhas são pegajosas – característica comum de plantas do gênero, por conterem glândulas oleosas.

Mimosa sobralii
É rara atualmente a descoberta de uma nova espécie de planta de grande porte. Recém-identificada e descrita, ‘M. sobralii’ tem cerca de oito metros de altura. (foto: Martin Grings)

A espécie, segundo Ribas, ainda deverá ser mais estudada. Por ora, suas possíveis aplicações ainda não estão bem definidas. “Talvez possa ser utilizada para ajudar na recuperação de áreas degradadas, como é o caso da bracatinga (Mimosa scabrella)”, presume.

A planta deverá, em breve, integrar a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza

De acordo com o botânico, a planta, que foi encontrada apenas em algumas localidades do Rio Grande do Sul, deverá, em breve, integrar a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) como espécie ameaçada.

O gênero Mimosa compreende mais de 500 espécies. As árvores do grupo são encontradas em diversos hábitats, principalmente em lugares de vegetação aberta. O Brasil é um grande centro de diversidade do grupo.

Amostras da M. sobralii estão catalogadas no Museu Botânico Municipal de Curitiba. O museu, que tem o quarto maior acervo de plantas do país, conta com amostras de praticamente todas as espécies do gênero.

Franciele Petry Schramm
Especial para a CH On-line/ PR