Um composto extraído da alga parda marinha Dictyota pfaffii , encontrada no Atol das Rocas (Rio Grande do Norte), será usado na produção de um gel vaginal para prevenir infecções pelo HIV. (Imagem: Roberto Campos Villaça/UFF)
Um gel vaginal poderá ser um poderoso aliado das mulheres na prevenção contra a Aids. O produto, que está sendo desenvolvido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Fundação Ataulpho de Paiva, em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF), tem como princípio ativo um composto extraído da alga parda marinha Dictyota pfaffii , encontrada no Atol das Rocas (Rio Grande do Norte). Testes in vitro comprovaram sua capacidade de impedir a multiplicação do vírus HIV nas células, o que evitaria a infecção.
A bióloga Valéria Laneuville Teixeira, do Instituto de Biologia da UFF, responsável pelo isolamento do composto químico, chamado dolabelladienetriol, conta que ele pertence ao grupo dos diterpenos. Ela explica que o produto reprime a ação de uma enzima do vírus chamada de transcriptase reversa, responsável pela conversão do RNA viral em DNA. Além de atuar na célula infectada, o diterpeno é capaz de agir preventivamente contra o vírus. “O vírus entra na célula, porém a presença do produto impede sua multiplicação”, esclarece a pesquisadora, acrescentando que essa característica levou a equipe a pensar no gel vaginal para a prevenção de mulheres. O produto agora está sendo testado em ratos na UFF e na Fiocruz e será avaliado em células humanas no Saint George’s Medical School, na Inglaterra.
Segundo Teixeira, a descoberta do diterpeno e de seu potencial contra o vírus HIV se deu por uma sucessão de acasos. Desde 1996, sua equipe, em colaboração com a da bióloga Izabel Christina de Palmer Paixão Frugulhetti, também do Instituto de Biologia da UFF, vem realizando pesquisas com extração de produtos naturais de algas pardas marinhas do gênero Dictyota para avaliar sua ação na transcriptase reversa do HIV-1. O mecanismo dessa ação foi estudado pela equipe do imunologista Dumith Chequer Bou-Habib, da Fiocruz, que verificou a capacidade preventiva da droga nas células. Os resultados levaram ao projeto de produção do gel, idealizado e coordenado pelo pesquisador Luiz Roberto Castello-Branco, também da Fiocruz, em colaboração com a Fundação Ataulpho de Paiva.
Efeito prolongado
Testes preliminares mostraram que o composto permanece na célula durante pelo menos dez dias. Mesmo que o produto final não tenha um efeito tão prolongado, a pesquisadora apóia seu uso preventivo. “O gel seria uma forma de defesa da mulher”, afirma ela, que defende o uso do produto como um aliado da camisinha.
A equipe não afasta a hipótese de se criar uma droga oral que impeça o organismo de ser infectado pelo vírus HIV. “As pesquisas estão em fase inicial, mas acreditamos na possibilidade”, avalia Teixeira. “Ter um medicamento dessa importância com a patente nacional é uma vitória”, comemora ela, lembrando que hoje o país gasta muito com o coquetel de drogas destinado aos soropositivos.
Fernanda Alves
Ciência Hoje On-line
18/09/2007