Gordura animal vira energia alternativa

O método desenvolvido na Universidade de Brasília usa gordura residual de frigoríficos para a fabricação de um combustível não poluente com características semelhantes às do diesel de petróleo. (Foto: Philippe Osswald).

Uma nova técnica para produzir um combustível semelhante ao diesel foi desenvolvida no Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB). O método usa gordura residual de frigoríficos para a fabricação de bioóleo, produto não poluente que pode ser uma alternativa para a geração de energia em regiões isoladas do Brasil. O trabalho, que faz parte da pós-graduação do químico André Santos, ficou em primeiro lugar na categoria mestrado do tema energia do Prêmio Petrobras de Tecnologia 2006.

O bioóleo é obtido através da técnica do craqueamento, em que a gordura animal entra em decomposição depois de ser aquecida até a temperatura de 400°C, sem o uso de nenhum reagente adicional. Para a obtenção do combustível, os pesquisadores da UnB optaram por utilizar gordura residual, o que, além de diminuir o custo do produto, também resolve o problema da sobra de gordura da indústria frigorífica, sem destino certo até então.

O novo combustível tem vantagens ecológicas, pois se trata de uma fonte de energia renovável e sua carga de enxofre é menor que a do diesel. Além disso, o gás carbônico (CO 2 ) liberado na queima do bioóleo leva menos tempo para se tornar óleo ou gordura novamente do que o CO 2 liberado na queima de combustíveis de petróleo, que precisa de alguns milhares de anos para se reconstituir. “Assim, o bioóleo contribui para reduzir o acúmulo de gases do efeito estufa”, completa Santos.

O produto será uma alternativa energética para regiões mais isoladas do país, especialmente no Cerrado, no semi-árido nordestino e na Amazônia. “Nessas comunidades afastadas, a dependência de diesel acaba custando muito”, explica o pesquisador. “Acreditamos que a produção independente do combustível, de forma auto-sustentável, vai gerar empregos e renda no campo, além de melhorar a qualidade de vida da população.” Embora seu foco principal sejam os motores de fazenda, o bioóleo pode ser usado em qualquer equipamento a diesel.

Apesar de os testes realizados até o momento não mostrarem nenhum ponto negativo para esse novo combustível, ele ainda não tem previsão de entrar no mercado. “É preciso que o bioóleo seja regulamentado pela ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis] e que o governo continue enxergando essa tecnologia como uma vantagem social”, esclarece Santos. “Por enquanto, ele continuará sendo usado apenas em poucas comunidades que fazem parte de nosso projeto para finalizarmos alguns últimos testes”, acrescenta, destacando que todos os resultados têm sido bastante satisfatórios.

Mariana Benjamin
Ciência Hoje On-line
27/11/2006