História das epidemias: uma batalha milenar

Inovador e surpreendente. A história e suas epidemias , livro do médico infectologista Stefan Cunha Ujvari, ao relatar como o surgimento de epidemias influenciou o destino de milhões de pessoas, afasta-se do prisma convencional pelo qual destrinchamos a história: o econômico e político.

Desde a Antigüidade o homem convive com as epidemias. Naquela época, acreditava-se que as doenças eram transmitidas pelo ‘mau ar’. Por isso os romanos se preocupavam com a higiene e drenavam pântanos e limpavam as ruas — o que conteve em parte o ímpeto das bactérias.

Por outro lado, essa foi uma época marcada por guerras, fator de expansão das epidemias — soldados famintos e com estado imunológico debilitado transmitiam doenças por onde passavam. Stefan defende que um fator importante para a queda do império romano foram os surtos de varíola e sarampo que dizimaram milhões de europeus entre os séculos 3 e 8.

Em boa parte da Idade Média, as locomoções humanas se restringiram, o que reduziu a ocorrência de epidemias. Mas o crescimento das transações econômicas e as guerras religiosas mudariam esse quadro. A lepra provavelmente foi trazida do oriente à Europa no fim do século 11, época das cruzadas. Já a peste bubônica — a mais temida das epidemias medievais — chegou à Europa em um navio genovês vindo da Criméia. Durante toda a Idade Média, a Europa sofreu com vários surtos dessa doença, que exterminou um terço da população do continente.

A expansão marítima dos séculos 14 e 15 também ajudou a globalizar as epidemias. O descobrimento da América não propiciou só a troca de mercadorias, mas também o perigoso intercâmbio de bactérias. Do velho para o novo mundo vieram inúmeras epidemias como a gripe e o sarampo, que dizimaram boa parte da população nativa. Já a varíola desempenhou importante papel na conquista do império inca pelos espanhóis. No caminho inverso, a sífilis desembarcou na Europa vinda da América.

 

A pestilência , do suíço Arnold Bocklin
(1827-1901), representa a peste galopando pelas ruas da cidade

 

Mas nem sempre as bactérias levaram a melhor. O livro relata o processo de elaboração da vacina da varíola, o uso de drogas extraídas de plantas e a confirmação da teoria da transmissão das doenças infecciosas por microrganismos. E também um dos maiores avanços do homem na guerra contra as bactérias: a descoberta da penicilina em 1928.

Mas se os microrganismos foram as primeiras formas de vida a surgir na Terra e sobreviveram até o aparecimento do homem, não era de se esperar que sumissem por completo. As bactérias tornaram-se resistentes aos antibióticos e ainda existem inúmeros microrganismos desconhecidos na natureza e epidemias misteriosas. Além disso, a própria ação do homem sobre a natureza pode acarretar o surgimento de novas doenças. Acredita-se que a Aids tenha sido transmitida do macaco para o homem. A invasão das florestas tropicais pelas cidades, a caça e o ecoturismo estariam por trás do surgimento dessa doença.

Destinado a um público amplo, A história e suas epidemias não exige grande conhecimento de medicina. É leitura fácil, agradável e cativante.

 

 

A história e suas epidemias – a convivência
do homem com os microrganismos

Stefan Cunha Ujvari
Editoras Senac Rio e Senac SP, 2003
328 páginas – R$ 45

Denis Weisz Kuck
Especial para a CH On-line
27/10/03