Identidade magnética contra falsificações

 

Em tempos de globalização, museus e galerias enviam suas obras para serem exibidas nos quatro cantos do mundo. Um desafio para essas instituições é certificar-se de que as obras devolvidas são de fato os originais cedidos para as exposições. Um método em desenvolvimento por pesquisadores brasileiros é capaz de resolver esse problema e combater a falsificação de obras de arte.

A técnica permite identificar a autenticidade de quadros e imagens sacras por meio da análise das partículas magnéticas dos materiais usados em sua confecção, que formam uma espécie de impressão digital magnética única para cada obra. A técnica está sendo desenvolvida por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e da Universidade de Utah (Estados Unidos) e foi descrita no Journal of Applied Physics.

“Impressão digital magnética” do detalhe de uma tela do pintor brasileiro Fábio Sombra. As partículas magnéticas dos materiais usados na pintura conferem a cada quadro um perfil único, capaz de distingui-lo de uma falsificação (imagens: Paulo Costa Ribeiro).

A autenticação se baseia no fato de que as tintas a óleo ou acrílicas apresentam partículas ferromagnéticas, que produzem campos magnéticos que podem ser captados por um scanner especial, o Squid (sigla em inglês para “dispositivo supercondutor de interferência quântica”). No caso das imagens sacras, a técnica identifica também os pregos em seu interior.

As partículas ferromagnéticas e o material de que são feitos os pregos usados na confecção das esculturas formam um campo magnético único para cada obra. A comparação entre o perfil magnético da obra original e o de uma possível falsificação permitirá, assim, atestar ou não sua autenticidade.

O campo magnético gerado pelos pigmentos das tintas e pelos pregos é medido com um Squid, equipamento usado na medicina originalmente para monitorar o campo magnético gerado pelo coração e pelo cérebro humanos. Para realizar a medição, é necessário magnetizar as obras aplicando um campo magnético de 100 gauss (unidade que mede a densidade do fluxo de campos magnéticos). Em seguida, é feita a varredura no scanner.

Análise magnética da estátua da Imaculada Conceição da Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro. No caso de imagens sacras, o perfil magnético da obra é gerado a partir das partículas presentes tanto na tinta quanto nos pregos usados em sua confecção.

Um programa especial de computador analisa o mapa magnético da obra. As imagens magnéticas obtidas mostram padrões distintos para cada obra analisada. Os sinais magnéticos mudam de acordo com a direção e a intensidade das pinceladas, as tonalidades ou a quantidade de tinta. A comparação entre tintas de mesma cor, mas de diferentes origens, também mostra sinais magnéticos distintos, o que permite identificar mesmo as falsificações que parecem perfeitas.

No caso das esculturas, é possível atestar a originalidade em função do perfil magnético dos pregos, que varia em função da sua disposição no interior da obra, da sua procedência e do material de que são feitos.

Preservação da obra
Segundo o físico Paulo Costa Ribeiro, professor do Departamento de Física da PUC-Rio e coordenador do projeto, essa técnica, ao contrário de outras, não corre o risco de danificar a obra. Hoje a autenticidade de peças de arte é comprovada por meio da análise de peritos e do uso de outras técnicas, como aparelhos de raios-X e radiação infravermelha. “A técnica de identificação por imagem magnética é totalmente não invasiva”, comenta.

Os pesquisadores estão contatando museus, galerias de arte e seguradoras para que a técnica comece a ser empregada. Ainda sim, os custos da operação permanecem onerosos. “Nossa técnica é eficaz em detectar a falsificação, mas ainda é necessário baratear o custo dessa operação”, reconhece Ribeiro.

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line
30/01/2008