Impacto perfeito contra um dos mais antigos astros do Sistema Solar

O Tempel 1 é atingido pelo projétil lançado pela sonda Deep Impact. Foto: NASA/JPL-Caltech/UMD.

Uma pequena sonda pode ter dado um passo fundamental para a compreensão do espaço. Lançada em 12 de janeiro, como parte da missão Deep Impact (Impacto Profundo), conduzida pela Nasa, ela tinha o objetivo de se aproximar do cometa Tempel 1 e lançar, de encontro a ele, um projétil chamado Impactor. Às 2h52 desta segunda-feira (horário de Brasília), o choque aconteceu, como esperado, fazendo do Deep Impact um dos projetos mais bem-sucedidos da agência espacial americana. Espera-se que a análise do impacto dê aos cientistas uma idéia da composição do núcleo do cometa e novas informações sobre a origem do Sistema Solar e da vida na Terra, sendo que os primeiros resultados obtidos serão divulgados em um congresso no Brasil, em agosto.

Segundo Daniela Lazzaro, pesquisadora do Observatório Nacional, “os cometas surgiram nas bordas do Sistema Solar e seus núcleos, pouco alterados pelo calor do Sol, ainda guardam características primitivas”. A maioria dos cientistas acredita que, ao se chocar contra a Terra, esses corpos tenham trazido elementos como hidrogênio e oxigênio e, assim, possibilitado o inicio da vida no planeta. Com o projeto Deep Impact , pela primeira vez, o homem conseguiu interagir ativamente com um corpo celeste. No caso, justamente com um cometa.

A sonda estava há 172 dias no espaço e percorreu 431 milhões de quilômetros até o encontro de hoje. O projétil que se chocou com o Tempel 1 a mais de 35.000 km/h era do tamanho de uma máquina de lavar, pesava 372 kg e era feito de cobre. “O cobre foi usado porque não se acredita que esse metal faça parte da composição do núcleo do cometa”, explica Lazzaro. O projétil registrou, com uma câmera interna, os minutos finais da aproximação, material que servirá de fonte de pesquisa para a Nasa. Já a sonda foi espectadora privilegiada do choque: tirou fotos e registrou dados da explosão a apenas 500 mil km de distância, durante cerca de 15 minutos, antes de entrar em modo de proteção para passar pelos destroços da cauda do cometa.

A operação pode amenizar a má impressão causada pelos últimos fracassos da Nasa. O Deep Impact , além de poder trazer informações preciosas sobre a origem de nosso sistema, foi comparativamente barato, rápido e mostrou grande refinamento tecnológico. Liberado pelo módulo espacial 22 horas antes do choque, o Impactor realizou três correções em sua trajetória, a última apenas dois minutos antes do fim. A precisão impressiona: o impacto ocorreu no horário estimado e, segundo o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, atingiu o núcleo, de apenas 6,5 km de largura, exatamente no local planejado.

Apesar do sucesso da missão, o trabalho está longe do fim. Os cientistas vão analisar o vídeo gravado pelo projétil e os dados transmitidos pela sonda. “Uma das questões é definir o que são as crateras que, no vídeo, aparecem na superfície do cometa” comenta Lazzaro. O estudo da cratera gerada pelo impacto assim como da quantidade e composição dos destroços vai responder a dúvidas quanto à densidade do cometa e seus elementos constituintes. “Só podemos saber, por enquanto, que o núcleo não pode ser fofo como muitos pensavam, mas formado de algum material sólido, por isso a explosão.”

A divulgação dos primeiros resultados está marcada para o Congresso Mundial de Astronomia que acontece entre os dias 7 e 12 de agosto em Búzios, Rio de Janeiro. “Essa vai ser a primeira chance de especialistas do mundo inteiro discutirem os resultados do experimento”, afirma Lazzaro. É uma honra sediar o congresso e, mais ainda, servir de palco para esse debate.”

Clique aqui para assistir a um vídeo que registra
o choque com o cometa Tempel 1 (477Kb).

Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line
04/07/05