Informática para alunos especiais

 

Tela de apresentação do programa de computador educativo Hércules e Jiló, desenvolvido para ajudar no aprendizado de crianças com déficit cognitivo (imagens: Amaralina Miranda de Souza).

Um programa de computador educativo desenvolvido por pesquisadores brasileiros é a nova ferramenta para ajudar no aprendizado de crianças com dificuldades cognitivas. Batizado de Hércules e Jiló, nomes dos dois protagonistas – um simpático menino e seu cachorro –, o programa apresenta jogos, atividades e outros recursos para ensinar ciências naturais a crianças e jovens na fase de alfabetização. O software é livre e pode ser baixado gratuitamente na internet.

O projeto foi desenvolvido pelos professores Amaralina Miranda de Souza e Gilberto Lacerda dos Santos, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB). Ao contrário de outros programas educativos que utilizam o computador, Hércules e Jiló se caracteriza como um “ambiente interativo e multimídia” que incentiva a criança a trabalhar tanto no computador quanto fora dele. Entre seus recursos, estão atividades que permitem à criança “montar” o jogo no computador para que seja construído e utilizado em sala de aula.

“Esses recursos auxiliam as crianças a assimilar o conteúdo de forma natural, assim como a ajudam a desenvolver a coordenação motora e muitas outras habilidades”, explica Souza. “Esse contexto lúdico é um elemento estimulante e ajuda a melhorar o desempenho dessas crianças e jovens, que já sofrem com o preconceito por apresentar um nível de aprendizado mais singular.”

Apesar de voltado para os alunos em fase de alfabetização, o programa privilegia a mediação dos professores e os orienta a não infantilizar os usuários. “Nosso parâmetro é o nível de desenvolvimento do aluno, não sua idade cronológica”, afirma a professora. “O nível de aprendizado dessas crianças e jovens, na grande maioria, está atrasado em relação à média do seu grupo, mas eles apresentam interesses e desejos como pessoas da sua idade social e é preciso respeitar isso.”

O programa é destinado principalmente aos professores, para que eles explorem as atividades de forma contextualizada com o currículo e o conteúdo a ser trabalhado em sala de aula. “Ainda encontramos muitos professores que resistem ao uso de tecnologia na sala de aula, mas vários estudos mostram que o computador é um bom aliado do professor e do aluno, quando bem utilizado no contexto da aula para promover aprendizagens significativas”, justifica Souza..

Mediação do professor

Interface de contextualização do programa explica aos professores como o programa pode ser usado dentro de sala de aula.

Segundo Souza, os professores muitas vezes ficam limitados e não conseguem despertar o interesse e a participação dos alunos com dificuldades cognitivas em sala. A professora afirma que o programa estimula a mediação do professor para que seja melhor aproveitado pelas crianças.

“A mediação do professor permite atender às diferentes demandas e favorece a participação coletiva no processo de aprendizagem, para que nenhum aluno fique isolado do resto da turma”, explica. “O computador é uma novidade, e isso atrai a atenção de todas as crianças, e não apenas daquelas com dificuldades cognitivas.”

A aplicação de Hércules e Jiló em sala de aula tem sido objeto de vários estudos. Foram entregues à Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação cerca de 600 exemplares para serem distribuídas a escolas públicas de todo o país. O programa educativo pode ser obtido a partir do seguinte endereço: http://www.fe.unb.br/area.php?area_cod=26 .

De acordo com Souza, a repercussão do programa foi muito boa e a equipe está desenvolvendo uma segunda edição, Hércules e Jiló no mundo da matemática. “Fomos a campo identificar as maiores dificuldades do ensino da matemática para esses alunos. A equipe está testando os jogos em sala e analisando os níveis de complexidade. A previsão é que até o fim do ano lancemos o novo programa.”  

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line
10/07/2008