Iniciativas dignas de prêmio

 

Relativamente recente, o conceito de tecnologia social pode ser entendido como todo processo, técnica ou produto desenvolvido e empregado para resolver problemas sociais. Desde abril, existe no país a Rede de Tecnologia Social (RTS), que visa promover o desenvolvimento sustentável por meio da reaplicação, em escala, de tecnologias sociais, além de incentivar sua adoção como políticas públicas. Neste ano, ocorre ainda a terceira edição de uma premiação que procura identificar e estimular iniciativas desse tipo: trata-se do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. Em entrevista à CH On-line , Luis Fumio Iwata, diretor de Tecnologia Social e Cultura da Fundação Banco do Brasil, dá detalhes sobre o prêmio (que está com inscrições abertas até o dia 30 de junho pela internet ), além de analisar a importância da tecnologia social e o seu futuro no país.

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As fotos ilustram iniciativas brasileiras voltadas para a solução de demandas sociais, como a que envolve mulheres quebradeiras de coco babaçu no Maranhão; a que  usa tecnologia alternativa para produção de borracha natural e a que constrói casas em sistema de mutirão em Sacramento (MG).

 

 

CH – Qual a importância do prêmio oferecido pela Fundação Banco do Brasil para o desenvolvimento de iniciativas de tecnologia social no país?

 

LF – O prêmio é, hoje, um dos principais instrumentos disponíveis para identificar e selecionar tecnologias sociais para difusão e reaplicação. Quando pouco se falava de tecnologia social, não existindo nenhum programa especifico ou mesmo conceituação publicada sobre “tecnologia social”, a FBB criou, em 2001, o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social e o Banco de Tecnologias Sociais. Desde então foram criados o Instituto de Tecnologia Social e o Centro Brasileiro de Referência em Tecnologia Social. Hoje instituições diversas têm programas, projetos, departamentos e gerências de Tecnologia Social implementados; em 2004, foi realizada a I Conferência Internacional e Mostra de Tecnologia Social, em São Paulo; e 2005 culmina com a criação da Rede de Tecnologia Social (RTS).

 

CH – Como a RTS atua na promoção e desenvolvimento das tecnologias sociais?

 

LF – A RTS concentra-se em promover a inclusão social através da reaplicação de tecnologias sociais, pela ação de seus integrantes junto às comunidades. A rede poderá, também, estimular o desenvolvimento de novas tecnologias, quando as comunidades identificarem demandas sociais ainda não atendidas pelas tecnologias sociais existentes. Em 2005 e 2006, a RTS focará sua atuação na reaplicação de tecnologias para geração de trabalho e renda, em especial em comunidades do semi-árido, da Amazônia e dos bolsões de pobreza das metrópoles.

 

CH – O que é necessário para concorrer ao prêmio oferecido pela Fundação Banco do Brasil? Como é feita a seleção?

 

LF – É necessário que a tecnologia social esteja implementada e que seja efetiva na solução do problema social a que se propôs resolver. As inscrições que se enquadrarem na definição de tecnologia social recebem um Certificado de Tecnologia Social, passando a integrar o Banco de Tecnologias e a concorrer aos prêmios. As tecnologias serão avaliadas de acordo com os critérios presentes no regulamento e cada uma das oito melhores será premiada com R$ 50 mil.

 

CH – Como é o processo da reaplicação da tecnologia social? Qual a importância do prêmio para esse fim?

 

LF – A reaplicação ocorre em comunidades que convivem com problemas idênticos aos que já foram solucionados pelas tecnologias sociais. As comunidades são organizadas e capacitadas para a reaplicação da tecnologia e um convênio de cooperação técnico e financeiro é firmado com a Fundação Banco do Brasil, para garantir os recursos necessários. O prêmio é o principal instrumento para identificação e seleção de tecnologias que poderão ser difundidas e reaplicadas.

 

CH – É tarefa somente das instituições públicas incentivar as tecnologias sociais? Apenas por meio do Estado elas podem se expandir por todo o país?

LF – Não. A meu ver, o incentivo às tecnologias sociais deve passar, sem dúvida, pelas instituições públicas, mas alcançar, também, o meio acadêmico, a sociedade civil organizada, o empresariado, gestores públicos, investidores sociais e o movimento social. No entanto, cabe ao Estado transformar as tecnologias sociais em políticas públicas, pois somente assim teremos chances de atingir a escala dos problemas. A sociedade brasileira deve cobrar do Estado um posicionamento mais concreto sobre o assunto.

 

CH – Qual o futuro da tecnologia social no Brasil?

 

LF – Se continuarmos investindo em tecnologias sociais, elas podem ser um dos caminhos possíveis para resolver a disparidade entre a escala dos problemas e a escala das soluções. Se todos que vêm trabalhando com tecnologia social continuarem desbravadores e persistentes em seus propósitos e, se o Estado assumir as tecnologias sociais de maior impacto como políticas públicas, poderemos ter um cenário social mais justo, equilibrado e inclusivo para os milhões de brasileiros que hoje estão à margem do que, minimamente, poderíamos chamar de cidadania.

 

Marcelo Garcia

 

Ciência Hoje On-line

16/06/05