João-de-barro ‘fora da linha’

Peças pequenas, baratas e de baixa tecnologia podem representar economias de grandes proporções. É o que comprova uma invenção da Força e Luz Coronel Vivida Ltda (Forcel), concessionária de energia elétrica localizada no sudoeste do Paraná. O “afastador de joão-de-barro”, uma peça desenvolvida por engenheiros da própria empresa e fabricada a custos muito baixos, reduziu consideravelmente seus gastos com manutenção e reparos de emergência.

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Casa de joão-de-barro construída em poste protegido pelo ’afastador’

A Forcel era prejudicada por freqüentes interrupções em suas linhas de transmissão causadas pelos joões-de-barro ( Furnaius rufus) . Essas aves, características por construírem sofisticados ninhos de palha e barro úmido, são abundantes na região e haviam se tornado um problema econômico para os administradores da Forcel.

Ao construir suas casas muito próximas aos isoladores que sustentam os cabos de condução, os pássaros encostavam nos fios e, dessa forma, provocavam curtos-circuitos. Eles morriam e ainda deixavam os consumidores sem energia e a empresa, por sua vez, era obrigada a acionar caros sistemas de segurança e de manutenção.

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Os afastadores nos dois tamanhos – grande (30 x 6 cm
de largura e 9 cm de altura) e pequeno (20 x 6 x 9 cm)

O “afastador de joão-de-barro” foi, então, a solução encontrada para minimizar o problema. A invenção é feita em fibra de vidro, mede apenas 30 centímetros, tem design simples e utilitário e é construída em dois tamanhos (simples e duplo). Instalada próxima aos isoladores, ela obriga o pássaro a afastar a construção de seu ninho das linhas de transmissão e reduziu em 20% as interrupções nas mesmas. A idéia nasceu a partir da observação dos hábitos do animal e da constatação de que seria possível a convivência sem que prejuízos fossem causados a ambos os lados.

“Conseguimos aliar economia, tecnologia e proteção ambiental”, comemora o engenheiro Roberto Lang, um dos ’pais’ da invenção. Ele calcula que a cada interrupção provocada pela ave (aproximadamente 20% das interrupções totais), R$ 300 poderiam ser gastos em manutenção — sem contar os prejuízos decorrentes da falta de luz. “Gastamos menos de cinco reais por poste para instalar o ’afastador’ e ainda nos prevenimos de possíveis indenizações aos clientes afetados pelos cortes”, analisa Lang.

O engenheiro constata que o problema dos joões-de-barro se agravou nos últimos anos pois o desmatamento tem sido cada vez maior na região. Os pássaros têm poucas árvores para construir seus ninhos e, então, buscam lugares semelhantes, como as cruzetas.

“O invento conjuga eficiência empresarial e desenvolvimento tecnológico com a responsabilidade ambiental, tão importante nos dias atuais”, conclui Lang. Ele ressalta que o dispositivo não foi patenteado e é de domínio público.

Julio Lobato
Ciência Hoje On-line
29/09/03