Labirinto do minotauro: a arqueologia de um mito

Posêidon, deus grego do mar, enviou a Minos, rei da ilha de Creta, um touro branco para ser sacrificado em sua honra. Minos, porém, guardou-o para si. Posêidon despertou então na rainha Pasífae uma paixão pelo animal. Da união de ambos, nasceu o Minotauro, metade touro, metade homem. A besta foi levada a um labirinto construído por Dédalos na cidade de Cnossos, em Creta. A cada nove anos, Minos exigia que fossem enviados sete rapazes e sete virgens para serem sacrificados pelo Minotauro. Até o herói Teseu se oferecer como voluntário, penetrar no labirinto e matar o animal e fugir com Ariadne, filha de Minos e Pasífae.

Sir Arthur Evans e uma visão de conjunto das escavações em Cnossos (fotos: reprodução / Minotauro )

Esses episódios, relatos conhecidos da mitologia grega, talvez não sejam totalmente desprovidos de respaldo histórico, como indicam as escavações do arqueólogo britânico Arthur Evans (1851-1941). Ele desenterrou as ruínas de um palácio “justamente onde a tradição grega” situava Cnossos. Evans estava convicto de que se tratava do palácio do rei Minos construído por Dédalos — o próprio labirinto do Minotauro.

O processo de descobrimento desse palácio foi reconstituído no livro Minotauro – sir Arthur Evans e a arqueologia de um mito , de Joseph Alexander MacGillivray. O autor, também arqueólogo, revê a trajetória de Evans, marcada por sua obsessão para provar que alguns mitos gregos realmente existiram, e conclui que “a força de vontade um homem pode mudar o curso da história”.

Evans não foi o primeiro a chegar a Cnossos. Antes dele diversos arqueólogos estiveram no local e descobriram os primeiros indícios da civilização minoana. Mas foi o britânico quem realizou os maiores esforços para descobrir os tesouros ocultos dessa cidade — ele comprou inclusive toda a propriedade onde realizaria suas escavações.

Seus trabalhos iniciaram-se no raiar de 1900 e estenderam-se pelas duas décadas seguintes: pouco a pouco, Evans foi desenterrando os cômodos do antigo palácio. “O parapeito da sala de banho provou ter outro corte circular em sua extremidade leste”, descrevia. “Do outro lado da parede norte, havia um pequeno banco e um assento de honra ou um trono à parte.” No sítio do palácio, Evans encontrou estatuetas, delicados objetos de argila com inscrições, afrescos e vasos de cerâmica do tamanho de seres humanos.

Com grande parte do suposto palácio construído por Dédalos revelado, o britânico concluiu que “esse enorme prédio, com seus corredores labirínticos e passagens tortuosas, sua longa sucessão de compartimentos sem saída, foi de fato o Labirinto de antiga tradição que forneceu uma habitação para o Minotauro de horrenda fama”.

Em Minotauro , a busca de Evans é reconstituída de antes do seu nascimento (seu pai e avô empreenderam escavações em outros sítios) até após sua morte, que não interrompeu as expedições a Cnossos. Em 450 páginas de leitura interessante, embora exigente em alguns trechos, o autor mostra como “os arqueólogos são tanto progenitores como parteiras no processo de dar à luz ao qual chamamos escavação”.

 

Minotauro – Sir Arthur Evans e a arqueologia de um mito
Joseph Alexander MacGillivray (trad.: Luiz Antonio Aguiar)
Rio de Janeiro, 2002, Editora Record
446 páginas – R$ 45

Denis Weisz Kuck
Ciência Hoje on-line
24/02/03