Lagos e rios no ciclo de carbono

Reservas de água doce, como lagos, rios e córregos, são fontes naturais de gases- estufa. No entanto, a quantidade desses gases lançada na atmosfera sempre foi negligenciada nas estimativas de fluxos globais de carbono.

Uma pesquisa publicada na edição desta semana da Science (07/01) por cientistas suecos, norte-americanos e brasileiros aceitou o desafio de medir essas emissões e concluiu que a liberação de metano por ambientes aquáticos continentais é bem maior do que se pensava.

As emissões de lagos e rios chegam a contrabalancear a absorção de carbono realizado pelas florestas

A equipe de pesquisadores analisou o fluxo de gases em 474 ecossistemas com reservas de água doce ao redor do planeta e descobriu que essas reservas emitem 103 bilhões de toneladas de metano (CH4) por ano, o equivalente a 25% do total de carbono absorvido pelas florestas, o chamado sumidouro terrestre de carbono. 

“Somados, os lagos e rios chegam a contrabalancear o sumidouro, pois o metano tem uma capacidade de absorção de radiação infravermelha, que causa o efeito estufa, 20 vezes mais elevada que o dióxido de carbono”, explica um dos autores da pesquisa, o biólogo Alex Enrich-Prast, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ciclo de carbono
Ilustração do fluxo de carbono nos lagos. O carbono é absorvido pela vegetação através da fotossíntese. Quando as plantas morrem, o carbono é transferido para o solo e depois para água, onde pode ficar reservado nos sedimentos ou ser emitido como metano e dióxido de carbono.

Irregularidade cria dificuldade

Líder do estudo, o sueco David Bastviken, da Universidade de Linkoping, acredita que a quantidade de metano emitida pode ser ainda maior do que a encontrada. “Por ser tão difícil mensurar os fluxos de metano da água para atmosfera em todo o mundo, esses resultados muito provavelmente são uma subestimativa da quantidade real de metano emitida.”

A dificuldade de realizar estudos como este se deve à irregularidade das emissões de metano em ambientes aquáticos. “Muitas dessas emissões ocorrem esporadicamente, quando as bolhas de metano que são produzidas no sedimento no fundo dos ambientes aquáticos chegam à atmosfera, o que dificulta muito seu estudo de maneira adequada”, explica o pesquisador brasileiro.

Para chegar ao total de gás metano emitido em todo o planeta, os pesquisadores utilizaram dados de pesquisas anteriores e realizaram novas medições, principalmente em regiões tropicais, onde poucas haviam sido feitas. 

Medição de metano
O pesquisador brasileiro Alex Enrich-Prast, em lago no Pantanal, com câmaras flutuantes utilizadas para medição do fluxo de metano (foto: Alex Enrich-Prast)

Câmeras flutuantes espalhadas na água foram usadas para capturar o gás difundido na superfície e também o liberado em bolhas vindas do fundo dos lagos e rios. As amostras do gás foram coletadas com seringas e medidas em laboratório.

As emissões de metano de lagos e rios ocorrem naturalmente e não devem ser consideradas uma ameaça ao clima. O gás tem origem nas plantas aquáticas e na decomposição dos sedimentos que ficam no fundo das reservas de água. 

No entanto, é importante conhecer esses dados para compreender melhor o ciclo de carbono e o fenômeno do aquecimento global. Por isso, os pesquisadores defendem que, de agora em diante, os resultados da pesquisa sejam incluídos nos balanços globais de gases de efeito estufa. 

 

Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line