Leite de cabra em pó

 

Uma máquina de baixo custo capaz de transformar em pó o leite de cabra promete melhorar a vida dos pequenos e médios produtores rurais. O projeto foi desenvolvido pelos estudantes Charles de Oliveira e Michael Willian, sob a orientação do químico Luís Carlos Gouvêa, do Curso Agroindústria da Universidade Federal de Viçosa, campus Florestal (Minas Gerais). Com a máquina, os pesquisadores pretendem regularizar a oferta de leite de cabra no mercado e desenvolver a agropecuária familiar. O equipamento poderá ser uma fonte de renda mensal para os produtores, diferentemente de outras atividades agrícolas que dão rendimentos apenas em determinadas épocas do ano.

Além de ser mais barata, a nova máquina funciona tanto à base de eletricidade quanto de gás de cozinha e pode beneficiar outros tipos de leite. (Foto cedida pelo pesquisador)

Segundo Gouvêa, a maioria dos produtores de leite de cabra do Brasil tem dificuldades para comercializar o produto: a legislação brasileira prevê que o leite seja embalado em sacos plásticos de cor branca e o produto permaneça congelado durante a comercialização. Por isso, mais da metade da produção sobra e acaba sendo usada na alimentação de animais, como cachorros, gatos e porcos. “O projeto, além de gerar renda, é uma alternativa ao descarte do leite”, afirma o professor. A máquina deve impulsionar a geração de empregos diretos e indiretos e, assim, melhorar a qualidade de vida na região. “Além de ajudar as pessoas carentes, o estudo também vai incentivar a criação de caprinos.”

Para transformar em pó o leite de cabra, primeiro faz-se uma pré-secagem do leite, isto é, retira-se aproximadamente 50% de sua água em banho-maria. “Isso porque o leite – que ferve a uma temperatura superior a 100 °C – não pode entrar em ebulição durante o processo de secagem, para que suas proteínas não percam as propriedades”, explica Gouvêa.

Após a pré-secagem, o produto é colocado em um recipiente ligado a um dispositivo que borrifa pequenas partículas do leite para dentro de uma câmara de secagem, a uma temperatura que varia entre 150 °C e 180 °C. O rápido contato com o ar quente já faz com que o resto da água evapore e o produto se transforme em pequenos grãos secos, ou seja, o leite em pó. Alguns grãos caem em uma válvula vibratória que impede que eles grudem uns nos outros. Já os que ficaram em suspensão na câmara são sugados por exaustão e recuperados por meio de um ciclone, dispositivo usado para separar partículas sólidas do ar.

Segundo o pesquisador, as máquinas mais baratas existentes no mercado custam mais de R$ 48 mil, um preço inviável para pequenos e médios produtores. “Nosso equipamento terá baixo custo devido à simplicidade da tecnologia e dos materiais de produção, baratos e de fácil acesso”, destaca.

O projeto também tem outras vantagens, como a possibilidade de construir a máquina em vários tamanhos, de acordo com a necessidade do proprietário. Além disso, ela poderá funcionar tanto à base de eletricidade quanto de gás de cozinha, o que permite seu uso em propriedades que não têm energia elétrica. “A máquina também é muito simples, qualquer um pode usar”, diz. “E pode beneficiar outros tipos de leite, como os de vaca, búfala e ovelha.” O equipamento já está sendo bastante solicitado. O pesquisador agora procura apoio para disponibilizá-lo no mercado. 

Mariana Benjamin
Ciência Hoje On-line
03/04/2007