Levantamento da vida no planeta

Tela inicial da Enciclopédia da Vida, que pretende reunir dados sobre todos os seres vivos da Terra, com contribuições de usuários do mundo inteiro (http://www.eol.org/).

Uma enciclopédia sobre praticamente todos os seres vivos do planeta é o mais novo banco de dados disponível na internet. Lançada por pesquisadores norte-americanos, a Enciclopédia da Vida (ou, em inglês, Encyclopedia of Life – EOL) vai contar tanto com contribuições de usuários do mundo inteiro como com textos extraídos de veículos de ciência conceituados. A EOL promete ser uma fonte bastante confiável e completa sobre plantas, animais, fungos, bactérias, protozoários e, até mesmo, vírus.

Segundo o zoólogo James Hanken, um dos diretores do projeto, o objetivo imediato é produzir uma página na internet que contenha informações a respeito de todas as espécies vivas da Terra – estimadas, atualmente, em cerca de 1,8 milhões –, além dos vírus. Ele também espera que a EOL se torne um espaço em que as novas espécies descobertas sejam formalmente descritas e nomeadas. Antes dessa iniciativa, existiam apenas pequenas enciclopédias virtuais a respeito de grupos particulares de seres vivos.

A exemplo de páginas como a Wikipedia, a EOL será construída a partir da colaboração do público. Qualquer pessoa poderá se candidatar a ser responsável pela verificação, compilação e inclusão de informações que surgirem sobre determinada espécie.

Mas, na EOL, os textos serão submetidos a especialistas na biologia de cada espécie. “Isso será feito para garantir a precisão e a confiabilidade científica dos dados”, esclarece Hanken em entrevista à CH On-line. Além disso, também serão disponibilizadas informações extraídas de textos dos principais periódicos, revistas e obras científicas de todo o mundo. Por enquanto, estão disponíveis apenas verbetes de algumas espécies, com dados retirados de fontes confiáveis na internet. 

Entre os verbetes já disponíveis na EOL, estão o de várias espécies de peixes, como o Pomacentrus sulfureus (foto: John Randall/FishBase).

Hanken conta, porém, que a EOL vem enfrentando algumas dificuldades. “No momento, temos tido problemas de sobrecarga em nosso sistema, por conta do elevado número de usuários que nos acessam diariamente”, diz.

Outro desafio, apesar do enorme interesse da comunidade científica, tem sido encontrar especialistas nos 1,8 milhões de espécies de organismos vivos. “Por fim, mesmo que contemos com importantes parceiros, ainda não conseguimos recursos financeiros suficientes para completar o projeto, incluindo a digitalização de obras relevantes para a literatura científica, em inglês e em outras línguas”, completa o zoólogo.

Origens do projeto
A idéia de criar a EOL nos moldes atuais surgiu em 2003, em um artigo do biólogo e professor emérito da Universidade de Harvard (Estados Unidos) Edward Wilson. Dois anos depois, ele conseguiu recursos da Fundação MacArthur e deu início ao projeto. “Wilson percebeu que várias pessoas hoje em dia têm a consciência de que muito da biodiversidade do planeta corre o risco de desaparecer. Algumas espécies chegam a ser extintas antes mesmo de os humanos as conhecerem”, enfatiza Hanken.

O zoólogo diz que muitas pessoas querem obter informações sobre esses seres ameaçados na tentativa de ajudar a protegê-los. “É isso o que a EOL se propõe a fornecer”, completa. Hanken espera que a enciclopédia amplie o interesse e o entendimento dos cidadãos do mundo inteiro a respeito da natureza, o que já tem sido notado por ele.

Informações sobre espécies de seres vivos de outros grupos, como o falcão peregrino (Falco peregrinus), à esquerda, e o cogumelo venenoso Amanita phalloides, à direita, também podem ser acessadas pelos usuários da EOL (fotos: Doug Dance e Franck Richard).

Sobre o público-alvo da EOL, Hanken acredita que ele seja composto por diversos segmentos, desde cientistas, professores e estudantes até cidadãos comuns, distribuídos em várias faixas de idade.

Atualmente, a EOL só pode ser lida em inglês e francês. Parcerias com pesquisadores de outros países facilitarão a publicação em outras línguas até o próximo ano. “Já estabelecemos contatos com cientistas holandeses, alemães, chineses, árabes, japoneses e latino-americanos. Em breve, a EOL estará disponível até mesmo em português”, prevê Hanken.   

Andressa Spata
Ciência Hoje On-line
07/03/2008