Lucrativa e ecologicamente correta

A palmeira Bactris gasipaes (pupunheira) uma é alternativa viável para atender à demanda do mercado por palmito (foto: A.N. Kalil Filho).

Após muitos anos de exploração, a juçara (Euterpe edulis) e o açaí (Euterpe oleracea) , palmeiras das quais se extrai o palmito, entraram para o rol das espécies ameaçadas de extinção. Há alguns anos o interesse pela pupunha (Bactris gasipaes), uma alternativa viável para atender à demanda do mercado sem depredar a natureza, vem crescendo muito em todo o Brasil.

Em relação à E. edulis e à E. oleracea, a B. gasipaes apresenta tanto vantagens econômicas quanto ambientais. Por isso, a Embrapa Florestas, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária localizada em Colombo (PR), com o apoio de outras instituições, deu início ao projeto ’Pupunheira para Palmito no Sul do Brasil’, que se dedica ao manejo da espécie com o objetivo de ampliar sua produtividade.

A planta se distribui por todo o país, mas é encontrada principalmente nos seguintes estados: Amazonas, Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. “Não há dados oficiais, mas estima-se que a espécie ocupe uma área plantada de 60 mil hectares”, diz o coordenador do projeto, Álvaro Figueredo dos Santos.

A pupunha é bastante antiga, apreciada pelos povos do Norte do Brasil, sobretudo na região amazônica. Tem alto valor nutritivo, podendo ser usada para substituir a proteína animal. Todas as suas partes são aproveitadas. Da raiz, tiram-se vermicidas; do tronco, madeira. As flores masculinas, quando caem, viram tempero. As folhas cobrem casas. E os caules secundários fornecem o palmito. Os frutos são ricos em betacaroteno (pigmento antioxidante que permite a obtenção indireta de vitamina A) e de sua polpa extraem-se substâncias usadas na fabricação de ração animal. Além dessas aplicações, a palmeira – bonita e imponente (atinge até 20 m de altura) – é usada também na ornamentação de parques e jardins.

Embora a pupunheira seja conhecida há muito tempo, sua adoção comercial é relativamente recente. No princípio da década de 1990, empresários e agricultores ‘descobriram’ suas vantagens. A precocidade de corte (que pode ser feito apenas dois anos após o plantio) é uma das características apontadas. A capacidade de perfilhação – isto é, de gerar filhotes, o que elimina a necessidade de replantio – é outro atrativo. A planta apresenta ainda outras qualidades que a diferenciam das demais fontes de palmito. Destacam-se, entre elas, menores custos de produção e capacidade de deter o avanço sobre plantações de juçara e açaí, ainda que o corte ilegal dessas espécies continue sendo praticado.

Pupunha no Sul do país

Pupunheiras em área irrigada no noroeste do Paraná (foto: D. J. Tessmann).

No projeto promovido pela Embrapa Florestas, os pesquisadores intervêm em todas as etapas. A começar pela escolha da semente, feita em um banco de germoplasma (uma biblioteca com dados sobre plantas que permite o melhoramento genético a partir de cruzamentos inter- ou intraespecíficos), e pela seleção das mais adequadas para a região.

Mas esse cuidado não basta para se obter um produto de qualidade. A temperatura, a quantidade de água e as condições do solo, continuamente avaliadas pelos especialistas, também são importantes. Sensível a geadas, a planta se desenvolve bem em áreas com temperatura na faixa de 20-25ºC e precipitação anual de aproximadamente 2.500 mm. O solo deve ser profundo, fértil e bem drenado (a pupunheira não tolera terras encharcadas). “No projeto, os terrenos são escolhidos em áreas abandonadas por antigos exploradores de E. edulis“, diz Santos. Ventos excessivos também comprometem o desenvolvimento das plantas. Se eles ocorrem, é importante que o produtor providencie meios de barrá-los.

O controle de doenças é fundamental para evitar perdas na produção. Atualmente, as principais pragas que atingem a espécie são antracnose, mancha foliar e podridão do estipe (caule das palmáceas). Cada doença requer um tipo específico de tratamento. Entre os mais comuns, estão monitoramento constante dos plantios, adubação e irrigação adequadas, plantação de leguminosas em associação e uso de fungicidas. Para crescer, a planta exige uma quantidade certa de nutrientes, em especial sódio, fósforo, boro e potássio. A adubação pode ser orgânica – restos animais e vegetais, como esterco ou folhas secas – ou química.

O corte e o envase do palmito também requerem cuidados especiais, já que nessas etapas são comuns as contaminações e a conseqüente queda da qualidade do produto. O corte deve ser feito longe da parte comestível, para evitar desidratação e contato com microrganismos, principalmente a bactéria Clostridium botulinum, que causa o botulismo.

Ellen Nemitz
Especial para a CH On-line / PR
19/10/2007