Maior proteção

Substância orgânica que já fez parte da fórmula de protetores solares, mas foi banida por órgãos de saúde por causar alergia e outros problemas de saúde, pode voltar à formulação do produto.

Estudo feito no Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR) mostrou que os efeitos colaterais da substância podem ser inibidos quando ela é aprisionada em uma estrutura inorgânica especial. O trabalho, que teve início em 2010, sob a coordenação do químico Fernando Wypych, foi publicado no Journal of the Brazilian Chemical Society.

O problema de substâncias como o ácido 4-aminobenzoico, também conhecido como p-aminobenzoico, ou PABA, é que elas se degradam com a luz, podendo causar desde dermatites e escamações até câncer de pele. 

Por outro lado, o produto é barato e absorve grande quantidade de raios ultravioleta. “Ele foi usado em protetores solares durante muito tempo, até se perceber que sua fotodegradação podia causar problemas de saúde”, lembra Wypych.

“Ele foi usado em protetores solares durante muito tempo, até se perceber que sua fotodegradação podia causar problemas de saúde”

A proposta dos pesquisadores da UFPR foi aprisionar o PABA no interior de uma matriz inorgânica, com o objetivo de reduzir o contato da substância com a pele, minimizando assim os efeitos colaterais.

A matriz inorgânica, de dimensões nanométricas, contém hidroxissais lamelares, que refletem a luz solar. Sintetizados na década de 1970, esses compostos ainda não haviam sido usados com esse propósito.

Wypych explica que o novo material é aplicado em cremes e loções da forma tradicional. A diferença é que agora, quando for adicionado a esses produtos, ele estará envolto em uma proteção.

Segundo o pesquisador, o processo é simples, e qualquer laboratório, mesmo modesto, tem condições de realizá-lo. O produto resultante é um pó branco ou amarelado que, adicionado a cremes e loções, se torna incolor.

Resultados surpreendem

Os primeiros testes com o novo produto em laboratório revelaram um fato curioso: ele se mostrou mais eficaz na absorção de radiação, mesmo quando usado em pequena quantidade. Além disso, não perdeu sua atividade quando imerso na água.

Os pesquisadores ainda não sabem exatamente por que isso ocorre, mas acreditam que o confinamento do PABA explique sua maior capacidade de absorver radiação.

Segundo Wypych, é possível que, com as alterações, o composto atue em uma faixa mais ampla de raios ultravioleta: A, B e C. Ele não descarta a possibilidade de a nova formulação, além de ser um fator de proteção maior, absorver um tipo de radiação que não seria absorvida por outra substância.

No momento, a equipe estuda uma parceria com pesquisadores da área de farmácia da UFPR para realizar testes mais específicos.

Guarda-sol
Além do guarda-sol, compostos orgânicos encapsulados protegem a pele humana contra a ação de raios ultravioleta. A eficácia dos novos produtos foi comprovada em laboratório da UFPR. (foto: Roberta W.B./ Flickr – CC BY-NC-SA 2.0)

A benzofenona-3, ou oxibenzona, que também está na mira dos órgãos de saúde, é outro composto que vem sendo estudado pela equipe. “Colocamos uma pequena quantidade da substância dentro de uma matriz inorgânica e ela apresentou um efeito de proteção satisfatório”, relata Wypych.

A equipe estuda agora outra maneira de aprisionar a benzofenona-3, já que, por conta de sua estrutura, ela não pode ser inserida diretamente na estrutura dos hidroxissais.

O químico ressalta que, além desses dois compostos, cerca de outros 20 estão sendo analisados pela equipe com a mesma finalidade. O grupo já solicitou a patente do protetor solar com proteção de matrizes inorgânicas e aguarda aprovação do pedido.


Katy Mary de Farias
Especial para a CH On-line/ PR