Mais perto do genoma de espécies extintas

 


Reconstrução artística de neandertal em exposição no Neanderthal Museum, em Mettmann, Alemanha (foto: Thomas Ihle).

O sonho de descrever por inteiro o genoma de espécies extintas como o homem de Neandertal ou o mamute está mais perto de se tornar uma realidade. Uma equipe internacional descreveu um método capaz de apontar onde e como as amostras de DNA conservadas em fósseis foram degradadas ao longo do tempo, permitindo restabelecer a seqüência correta de bases químicas que formavam essa molécula.

O novo método permitirá uma comparação mais refinada do genoma de espécies extintas com o de seus parentes vivos e ajudará a entender os mecanismos da evolução. O estudo comparado dos neandertais com o Homo sapiens e o chimpanzé ou dos mamutes com os elefantes modernos, por exemplo, deve ser aprimorado com a técnica.

Recuperar o genoma de espécies extintas, no entanto, está longe de significar que esses animais serão recriados em laboratório, como no filme Jurassic Park . “Essa perspectiva ainda é absurda para mim”, disse à CH On-line o autor principal do estudo, o geneticista sueco Svante Pääbo, do Instituto Max-Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha.

Além disso, dificilmente será possível seqüenciar o genoma de dinossauros, como postula o filme. As condições de preservação do DNA de espécies extintas há muitos milhões de anos, como esses répteis gigantes, inviabilizam sua análise. A técnica será válida para descrever o genoma de espécies que viveram “apenas” há algumas dezenas de milhares de anos, no Pleistoceno.

Padrões de degradação
No estudo publicado esta semana na revista PNAS , a equipe de Pääbo analisa as formas mais comuns de degradação das seqüências de DNA antigo preservadas. O grupo analisou fósseis de um neandertal que viveu há cerca de 38 mil anos na Croácia, de um mamute russo de 43 mil anos e de um urso-das-cavernas austríaco de 42 mil anos.

A equipe investigou a forma como as seqüências do genoma se deterioram com o passar do tempo e apontou como esses erros se distribuem ao longo da molécula de DNA. O grupo descobriu que o maior fator de degradação do DNA antigo é a remoção de uma amina (desaminação) das moléculas de citosina, e que esse erro é mais comum na ponta da molécula de DNA do que em seu interior.

A análise permitiu aos pesquisadores determinar padrões de degradação do DNA antigo, que serviram para alimentar um modelo estatístico capaz de “prever” onde e quando esse tipo de erro ocorre nas seqüências recuperadas. Com a ajuda do método e com a identificação de seqüências de DNA com cobertura ampla o suficiente, será possível em breve ter uma boa descrição do genoma do neandertal .

“Talvez tenhamos um rascunho da seqüência genômica do neandertal dentro de um ou dois anos”, prevê Pääbo. “A qualidade dessa seqüência, no entanto, não será tão boa, por exemplo, quanto a do genoma do chimpanzé de que dispomos hoje. Para uma seqüência mais precisa, precisamos de mais tempo e recursos.”

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
26/06/2007