Mais rápido e preciso

A sepse, decorrente da invasão da corrente sanguínea por microrganismos, é a principal causa de morte em unidades de terapia intensiva. O processo infeccioso mata cerca de 200 mil pessoas todo ano no Brasil e gera custos de R$ 20 bilhões ao Sistema Único de Saúde. Identificar de forma rápida e precisa o agente causador da infecção pode significar um grande passo para reduzir esses números.

É o que promete um novo método diagnóstico, em desenvolvimento no Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e no Instituto Carlos Chagas. As pesquisas, realizadas no âmbito do projeto Sepsis, tiveram início em 2012 a partir de uma demanda do Ministério da Saúde. Alguns resultados foram apresentados no II Simpósio Internacional de Nanobiotecnologia, realizado em Curitiba no mês passado.

A novidade do teste é a utilização de ferramentas de biologia molecular para detectar e identificar os agentes infecciosos a partir de sequências de DNA. “O dispositivo criado para a realização do exame fornecerá sensibilidade, especificidade e agilidade necessárias para o manejo clínico adequado dos pacientes”, diz o microbiologista e geneticista Luis Gustavo Morello, um dos responsáveis pelo projeto.

O procedimento empregado hoje no diagnóstico de sepse fundamenta-se em um método desenvolvido há cerca de cem anos. Trata-se da hemocultura, que consiste na coleta de sangue do paciente e na transposição da amostra para um meio que favoreça a multiplicação natural do microrganismo responsável pela infecção. “Há vários problemas nesse método, entre eles o longo tempo para a detecção do microrganismo”, afirma Morello.

Hemocultura
Recipientes utilizados para hemocultura, tipo de exame que detecta presença de bactérias no sangue, mas que é demorado e pouco eficaz. (foto: Strolch1983/ CC BY-SA 3.0)

“Em hospitais com tecnologia mais avançada – não é o caso da maioria dos hospitais brasileiros –, resultados preliminares são obtidos apenas 24 horas após a coleta de sangue”, conta o pesquisador do IBMP. “E, ainda assim, só é possível saber se o agente infeccioso é uma bactéria ou não.” Caso o microrganismo seja um fungo, acrescenta ele, a detecção é mais demorada, podendo levar até algumas semanas.

Agilidade

Estudo publicado em 2006 no periódico norte-americano Critical Care Medicine aponta que o risco de óbito aumenta em 7,6% a cada hora que um paciente com sepse recebe um tratamento inadequado decorrente da falta de diagnóstico.

Além disso, no Brasil, o índice de falsos negativos chega a 70%, geralmente por causa de tratamentos com antibióticos realizados antes da coleta de sangue para a hemocultura. “Todo esse cenário apontava para a necessidade de um teste com mais rapidez e precisão”, avalia Morello.

Com o novo método, o diagnóstico de sepse é feito algumas horas após a detecção dos sintomas. Além disso, o teste identifica o microrganismo responsável pela infecção

Com o novo método, o diagnóstico de sepse é feito algumas horas após a detecção dos sintomas. Além disso, o teste identifica, em uma grande variedade de potenciais agentes infecciosos, o microrganismo responsável pela infecção. A equipe médica pode assim direcionar o tratamento do paciente de modo mais eficaz.

O projeto – coordenado pelo biologista molecular Marco Aurélio Krieger, com o apoio do Ministério da Saúde e da Finep – é feito em parceria com instituições nacionais e internacionais da área hospitalar e de desenvolvimento de tecnologia para a saúde. Os experimentos estão em fase de validação laboratorial, e os testes pré-clínicos terão início ainda este ano.

Célio Yano
Ciência Hoje On-line/ PR