Mais terra aos pássaros

O papa-formiga-barrado ( Cymbilaimus lineatus ) é uma das espécies que podem ser prejudicadas pelo desmatamento na Amazônia. (Fotos do Acervo de Imagens Ornitológicas da Coleção de Aves do Inpa, Manaus, Amazonas. Autoria e copyright : Mario Cohn-Haft).

Eles observam do alto as árvores amazônicas serem devastadas pela ação humana. Mas qual é o tamanho ideal de uma reserva florestal para que os pássaros sejam preservados? A análise de dados coletados ao longo de 13 anos pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) acaba de determinar que eles precisam de uma área ampla para sobreviver.

O estudo, publicado esta semana na revista norte-americana Science , faz parte do projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, que desde 1979 analisa os efeitos do desmatamento na Amazônia e já rendeu um trabalho recentemente divulgado sobre o impacto sofrido pelas árvores . Os resultados de ambas as pesquisas desse projeto coincidem em um ponto principal: parece que a forma mais eficiente de preservar tanto as espécies de árvores quanto as de pássaros é manter grandes áreas de reserva florestal, em vez de diversas e pequenas áreas verdes.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores compararam a presença desses pássaros em diversos fragmentos de floresta (com tamanhos entre 10 e 100 hectares) e em porções equivalentes de mata contínua. Nelas foram capturadas e identificadas, diversas vezes por ano, 55 espécies de aves. Esse procedimento  permitiu determinar quantas sobreviveram, para onde migraram e se elas apareceram novamente naqueles fragmentos.

Outra ave identificada pelos pesquisadores nos fragmentos florestais analisados é o rapazinho-carijó ( Bucco tamatia ).

A equipe, liderada pelo biólogo Gonçalo Ferraz, analisou esses dados e verificou baixa presença de aves nos fragmentos menores. Ferraz explica que isso ocorre principalmente porque se trata de espécies raras, que não são encontradas em amostras pequenas de mata, o que torna reservas desse tamanho ineficazes. “Na floresta, os pássaros são como as gotas de chocolate em uma grande massa para biscoitos”, exemplifica. “Como são poucas as gotas e de tipos diferentes de chocolate, para você fazer biscoitos com uma boa quantidade e variedade delas, precisa cortá-los em pedaços maiores.”

Ferraz afirma que hoje, em um fragmento de 100 hectares, metade das espécies de aves que estavam ali presentes já pode ter sido perdida. “Algumas delas podem morrer por falta de recursos naturais, ou apenas não são substituídas após terem sua reprodução comprometida nos fragmentos.” Outra característica também pôde ser observada: muitos desses pássaros regressaram para alguns fragmentos em que a fazenda em seu entorno foi posteriormente abandonada e a floresta voltou a crescer.

Apesar de o projeto existir há 28 anos, foram publicados agora apenas dados coletados até 1993, quando a pesquisa sobre as aves foi interrompida. Ferraz afirma que o trabalho foi retomado em 2000 e até o final do ano devem ser obtidas mais informações sobre o impacto do desmatamento. “Não podemos prever exatamente o que acontecerá com os fragmentos que não têm uma boa amostragem de pássaros”, diz. “Mas o estudo nos permite determinar qual é a melhor forma de preservar esse ecossistema.”

Marina Verjovsky
Ciência Hoje On-line
11/01/2007