Mais uma possível utilidade para a própolis

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Para produzir a própolis, as abelhas coletam resinas das plantas e, na colméia, misturam-nas à saliva e a outras substâncias (foto: reprodução)

 
Dor de garganta, frieira, cáries, problemas de pele e, agora, malária. Devido às inúmeras propriedades curativas que possui, a própolis pode começar a ser utilizada também para combater a doença tropical que mata milhões em todo o mundo. Isso é o que indica um estudo, ainda em fase inicial, que foi coordenado por Maria Amélia Barata da Silveira e realizado por Mauro de Oliveira Junior, ambos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP).
 
A equipe sintetizou compostos já existentes na própolis e sugere que alguns deles poderiam servir de matéria-prima para a produção de novos fármacos antimaláricos. Testes específicos contra o microrganismo causador da malária ainda não foram realizados, mas os resultados preliminares indicam que um ácido encontrado na própolis deve ser eficaz no tratamento da doença.
 
O problema dos atuais medicamentos contra a malária é que, além de apresentarem altas taxas de toxicidade, eles não são 100% eficientes – muitas vezes o parasita resiste e sobrevive no organismo do hospedeiro. A idéia do pesquisador é utilizar a própolis, que não apresenta efeitos colaterais, para criar uma armadilha para o micróbio. “O parasita que causa a malária absorve colesterol do hospedeiro para produzir suas organelas. Se em vez desse material ele absorver a própolis, não conseguirá formar seu organismo”, explica Mauro.
 
A equipe sintetizou compostos da resina natural e encontrou um ácido, o p-hidroxicinâmico, que é um bactericida potente e possui alta atividade farmacológica: estudos anteriores mostraram que essa substância é capaz de combater a leucemia e outros tipos de câncer, além de eliminar bactérias como a Helicobacter pylori , responsável por úlceras estomacais.
 
Mauro pretende testar o efeito desse ácido contra a malária durante seu doutorado, a ser realizado na Bulgária. “Ainda é prematuro fornecer um resultado concreto no que diz respeito à malária, mas esta pesquisa abre caminho para novos estudos sobre a própolis e a flora brasileiras”, afirma.
 
Para Mauro, a participação do Brasil nas pesquisas para o desenvolvimento de remédios contra a malária é muito importante: “nossa própolis é de altíssima qualidade, superior à de muitos países, e pode trazer muitos benefícios à saúde do homem”. Para produzir a própolis, as abelhas coletam resinas das plantas e, na colméia, misturam-nas à saliva e a outras substâncias. Assim, a grande biodiversidade das florestas brasileiras oferece às abelhas diferentes qualidades de resinas para a fabricação da própolis, o que resulta num produto especial.
 

“Além disso, os países desenvolvidos não têm grande interesse em desenvolver novos fármacos antimaláricos porque não são  afetados pela doença. Aqui no Brasil, no entanto, o número de vítimas é cada vez maior, sobretudo na Amazônia”, ressalta Mauro.

Bel Levy
Ciência Hoje On-line
18/03/05