Mamadeira segura

O leite materno é indispensável para a nutrição adequada do bebê, mas pode transmitir doenças da mãe, como a Aids e o mal de Chagas. A pasteurização do leite é uma forma de eliminar esse risco. O processo, que é simples e pode ser feito em casa, acaba de ganhar uma ferramenta para torná-lo mais seguro: um aplicativo de smartphone.

A pasteurização caseira do leite nada mais é do que fervê-lo até 71°C por 15 segundos para eliminar microrganismos nocivos. Essa medida geralmente é feita colocando o leite em potes de vidro e esquentando-os na água em panela e fogão. Mas o controle de temperatura tem que ser bem rígido para que a operação funcione. 

O aplicativo FoneAstra desenvolvido pela Universidade de Washington, nos Estados Unidos, com o apoio da ONG Path, ajuda a monitorar de forma mais eficiente o aquecimento do leite. O programa acompanha um termômetro digital que, colocado na água da panela, envia as informações de temperatura para o celular, que exibe os graus precisos, além de mensagens sonoras e de texto instruindo quando parar a fervura e como proceder. 

“Se o leite não for aquecido o suficiente, bactérias e vírus perigosos podem não ser destruídos, se for aquecido demais, pode destruir as proteínas e anticorpos que são críticos para saúde do bebê, especialmente recém-nascidos”, explica Israel Kiersten, diretora do programa de amamentação e nutrição infantil da Path.

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O celular informa a temperatura do leite e indica o passo a passo do processo de pasteurização. (foto: montagem Sofia Moutinho)

O aplicativo também agrupa informações sobre o leite como, por exemplo, a data em que foi extraído e pasteurizado, o nome da mãe e o número do pote em que foi acondicionado. Esses dados são usados para criar etiquetas que podem ser impressas na hora por uma impressora conectada ao celular por bluetooth. 

A ideia dos pesquisadores que criaram o FoneAstra é que ele possa ser usado em casa por mães que possuem alguma doença transmissível pela amamentação e também em bancos de leite materno. 

O aplicativo junto com o termômetro digital e uma impressora portátil está sendo testado em quatro maternidades que possuem banco de leite materno na África do Sul. Kierstein conta que, em princípio, o projeto do FoneAstra surgiu para responder ao desafio vivido por muitas mães e maternidades africanas que lidam com a forte presença da Aids.

“Métodos simples como a pasteurização caseira são necessários, mas o controle de qualidade é imprescindível”

“A pasteurização comercial é a mais eficiente, mas é cara e muitos hospitais de países pobres como a África do Sul simplesmente não têm como bancar”, diz Kierstein. “Métodos simples como a pasteurização caseira são necessários, mas o controle de qualidade é imprescindível, especialmente porque estamos falando de bebês vulneráveis, filhos de portadores de HIV, órfãos e pré-maturos. Nosso aplicativo pretende preencher essa lacuna.”

Segundo os pesquisadores, o aplicativo junto com a impressora e o termômetro custa em torno de mil reais. Depois dos testes, a tecnologia será disponibilizada para qualquer instituição interessada.

Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line