Marcas cerebrais do transtorno do pânico

 

Pessoas que sofrem de transtorno do pânico apresentam alterações no volume do cérebro, segundo estudo feito na Universidade de São Paulo (USP). A diferença de tamanho é verificada em estruturas cerebrais relacionadas à ansiedade e pode levar os pacientes a sentirem as crises da doença de maneira mais intensa.

Imagens de ressonância magnética do cérebro de pacientes com transtorno do pânico mostram aumento da ínsula esquerda (A) e diminuição do cíngulo anterior direito (B), entre outras alterações (créditos: Psychiatry Research: Neuroimaging).

Por meio de imagens de ressonância magnética do cérebro de 19 pacientes com transtorno do pânico e 20 pessoas saudáveis, foi observado aumento no volume da ínsula e do tronco cerebral e diminuição do cíngulo anterior direito dos doentes. Segundo o psiquiatra Ricardo Uchida, que realizou a pesquisa em seu doutorado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, na USP, essa descoberta soma-se a resultados de estudos anteriores, que mostraram que essas estruturas estão relacionadas ao transtorno do pânico.

O transtorno do pânico caracteriza-se pela ocorrência de repetidas crises, em que o paciente sente enorme desespero e necessidade de fuga e acredita que irá morrer. Os indivíduos em crise apresentam sintomas como taquicardia, falta de ar, tremores e ondas de frio e calor. Estima-se que entre 1,5% e 3% da população mundial sofram da doença. Desse grupo, dois terços são mulheres.

Uchida explica que pessoas com transtorno do pânico têm uma percepção diferente em relação a sensações como ansiedade e medo, o que pode estar relacionado às alterações de volume no cérebro. “Isso pode fazer com que elas sintam as emoções de modo mais intenso”, supõe. Mas o psiquiatra ressalta que ainda não é possível afirmar com certeza se a alteração volumétrica é causa ou consequência da doença.

Percepções e reações alteradas
Segundo o pesquisador, o aumento do volume da ínsula está relacionado a determinadas sensações que ocorrem durante as crises. “Em indivíduos saudáveis, a ínsula é ativada, por exemplo, quando a pessoa sente náusea, dor, falta de ar ou quando dirige sua atenção para o próprio ritmo cardíaco”, explica. “Acredito que a ínsula aumentada faça com que aqueles que sofrem de transtorno do pânico tenham mais dificuldade de lidar com essas sensações.”

Já o cíngulo, que sofre diminuição, está especialmente relacionado à percepção da ansiedade. Por sua vez, o tronco cerebral estimulado provoca uma necessidade de luta e fuga. “O aumento dessa região pode fazer com que esses indivíduos tenham mais tendência a apresentar reações catastróficas durante as crises”, afirma Uchida.

O psiquiatra acredita que um dos maiores benefícios da descoberta é permitir uma maior compreensão da doença. “Muitas pessoas classificam o transtorno do pânico e as crises sofridas pelos pacientes como frescura ou exagero”, lamenta. A comprovação de que a doença está relacionada a uma alteração cerebral poderia combater esse preconceito. “O esclarecimento é uma das principais armas da psiquiatria.”

Uchida destaca ainda que o aumento da compreensão sobre a doença estimula a busca por tratamento. “Se pudermos mostrar ao paciente que os ataques são involuntários e estão relacionados a uma alteração cerebral, ele passará a ter mais confiança no tratamento e mais segurança para lidar com a doença”, completa.

Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line
21/01/2009