Medidor de longevidade

O envelhecimento provoca mudanças em todos os organismos vivos. Compreender os mecanismos envolvidos nesse processo pode ajudar os pesquisadores a desenvolver drogas capazes de retardar ou diminuir seus efeitos. Um novo passo nessa direção foi dado em pesquisa realizada no Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química (LSSCA), da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Universidade de Rochester, nos Estados Unidos. O estudo mostrou que as taxas de determinado hormônio no cérebro de roedores estão associadas à sua longevidade.

Quanto maior a longevidade do animal, menor é a taxa do hormônio IGF1R em seu cérebro

Segundo o coordenador da pesquisa, o médico veterinário Augusto Coppi, da USP, o objetivo foi analisar a atuação do hormônio IGF1R no corpo de roedores – observando se os níveis dessa molécula variam de acordo com a massa corporal e o ciclo de vida desses animais à medida que envelhecem. Para isso, foram avaliadas 16 espécies de roedores dos mais variados tamanhos: desde camundongos, ratos, hamsters e chinchilas até pacas e capivaras.

Os resultados mostram que quanto maior a longevidade do animal, menor é a taxa do hormônio em seu cérebro. E ainda mais: “Descobrimos que a quantidade do hormônio IGF1R não tem nenhuma relação com o tamanho da espécie e que sua concentração no cérebro diminui conforme os animais vão envelhecendo”, diz o pesquisador. “Esse padrão se repete na variedade das espécies analisadas.”

 

Hormônio do envelhecimento

O IGF1R é uma forma periférica do hormônio do crescimento e já havia sido considerado um bom medidor de longevidade em roedores em estudos anteriores. Com o IGF1R mede-se a ação da insulina, que é produzida no pâncreas, cai na corrente sanguínea e se espalha por todo o corpo. Esse hormônio pode ser encontrado não apenas no cérebro, mas também em outros órgãos como pulmões, rins e coração.

Os dados sobre a ação do hormônio no cérebro podem ajudar a melhorar a compreensão sobre a evolução do envelhecimento em mamíferos

A nova pesquisa mostrou que amostras de tecidos desses órgãos têm grande variação nas taxas de IGF1R e que os níveis de envelhecimento em roedores são mais seguros quando o hormônio é medido no tecido cerebral. “No cérebro, é possível estabelecer um padrão, diferentemente do que acontece nos tecidos do rim, pulmão e coração”, afirma Coppi. Segundo ele, é provável, do ponto de vista teórico, que análises feitas no cérebro de outros mamíferos repitam esse padrão entre os níveis de IGF1R e longevidade.

Para o pesquisador, os dados sobre a ação do hormônio no cérebro podem ajudar a melhorar a compreensão sobre a evolução do envelhecimento em mamíferos. Além disso, poderiam contribuir para o desenvolvimento de medicamentos para doenças neurodegenerativas que atuem em áreas específicas do cérebro, evitando efeitos colaterais em outros órgãos do corpo.

“O envelhecimento traz alguns problemas comuns e a medicina geriátrica poderia se beneficiar desses resultados, com a criação, por exemplo, de uma nova droga que atue em áreas cerebrais específicas, potencializando assim a memória e as funções cognitivas”, especula o pesquisador.

 

Fernanda Távora
Ciência Hoje On-line