Menor desperdício nos postos de gasolina

Uma simples lavagem de carro em equipamentos automáticos de postos de gasolina gasta em média cerca de 100 litros de água. Diante da perspectiva de um futuro de escassez desse recurso, diminuir seu desperdício foi a meta de uma técnica desenvolvida pela engenheira civil Priscila da Cunha Teixeira em seu mestrado, realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob orientação de Carlos Gomes da Nave Mendes. Os pesquisadores elaboraram um processo de reciclagem que reduz a quantidade de poluentes que se incorporam à água após ela ser usada nos equipamentos de lavagem, o que permite a sua reutilização pelos postos de gasolina.

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Lavagens de carro em equipamentos automáticos
gastam em média cerca de 100 litros de água

processo de reciclagem que a pesquisadora utilizou e aperfeiçoou foi o da flotação por ar dissolvido: a água usada na lavagem é armazenada em um recipiente e recebe substâncias químicas (cloreto de ferro, sulfato de alumínio etc), que fazem com que as partículas de sujeira se aglomerem e formem flocos. Em seguida são liberadas microbolhas de ar que aderem aos flocos de sujeira. O aglomerado partícula-bolha é menos denso que a da água e tende a flutuar, o que permite a remoção manual ou mecânica de grande parte dos poluentes presentes no líquido.

Entre 70 a 80% da água utilizada em uma lavagem pode ser recuperada, mas a taxa pode ser ainda maior com o acréscimo de água da chuva, que serve para minimizar as perdas com a evaporação e diminuir o índice de poluentes que se concentram após vários processos de reciclagem. “Uma certa quantidade de sais, por exemplo, pode provocar a corrosão da carroceria do veículo”, explica Priscila.

Os poluentes produzidos em uma lavagem de carro são uma mixórdia: óleos, graxa, partículas de poeira, carbono, asfalto, metais pesados, detergentes etc. “Uma remoção grosseira dos poluentes pode ocasionar o crescimento de microrganismos como a bactéria Legionella pneumophila , que podem provocar danos à saúde das pessoas que entram em contato com o líquido armazenado”, pondera a pesquisadora. “Além disso, a água pode ficar com um odor desagradável.”

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Na flotação por ar dissolvido, a água é tratada com substâncias químicas
que levam as partículas de sujeira a se aglomerarem e formarem flocos

A reciclagem da água usada na lavagem de carros ainda é incipiente no Brasil, pois a maioria dos métodos não atinge resultados satisfatórios. “No exterior existem tratamentos eficientes, mas muito caros”, esclarece Priscila. Os testes em escala experimental realizados por ela conseguiram remover cerca de 90% dos poluentes suspensos e de 60 a 80% dos dissolvidos. “Esse é um índice de qualidade ótimo para se reciclar a água.”

O projeto em escala real será realizado por um convênio entre a Unicamp e a Ceccato, empresa que fabrica equipamentos de lavagem de veículos. Prevê-se que dentro de um ano a tecnologia possa ser comercializada para empresas automotivas e de ônibus e postos de gasolina. “O objetivo é possibilitar que os custos com a compra, manutenção e operação do equipamento para reciclagem compensem os gastos cada vez maiores com o consumo de água e coleta de esgoto”, conclui a pesquisadora.

Denis Weisz Kuck
Ciência Hoje On-line
04/07/03