Menor distância entre Terra e Marte nos últimos 60 mil anos

Engana-se quem teme perder a oportunidade histórica de observar a maior aproximação entre Marte e nosso planeta, devido à frente fria que encobre o céu de parte do centro-sul do país. É o que garante Marcomede Rangel, físico do Observatório Nacional. Como se trata de uma aproximação gradual, pequenas diferenças como as de um dia ou até um mês não influem decisivamente na observação. “Boas condições climáticas e a fase nova da Lua são muito mais importantes em termos de nitidez”, conta o astrônomo.

A foto acima foi tirada pelo telescópio Hubble 11 horas antes da maior
aproximação entre Marte e a Terra nos últimos 60 mil anos. O planeta vermelho estava então a 55,760 milhões de km de nós (imagens: Nasa)

Assim, embora a oposição de Marte à Terra ocorra na noite de quarta-feira (27 de agosto), a chegada da frente fria pode ter sido uma feliz coincidência. Mesmo que nessa data o tempo esteja encoberto, as chuvas limparão o céu e, favorecido pela ausência da luz lunar, o brilho de Marte será ainda mais evidente. “Ainda temos o privilégio de estarmos ao sul do Equador, região mais próxima ao evento”, completa Rangel.

Para os preciosistas, vale registrar que Brasília será uma das capitais com melhores condições de observação do fenômeno, não só devido a condições climáticas favoráveis, como a baixa umidade do ar. No instante da aproximação máxima (1h05 do dia 28), o local da Terra mais próximo de Marte estará situado na Polinésia Francesa, no Pacífico Sul. A capital brasileira estará apenas 658 quilômetros mais distante do planeta vermelho (Londres, por exemplo, estará 5329 km mais distante).

 

Tamanho relativo de Marte visto da Terra, comparado em diferentes anos

Há cerca de 60 mil anos Marte não se aproxima tanto da Terra. Conhecido como ‘oposição periélica’, o fenômeno que traz esse astro a 55,758 milhões de km de nossa superfície é uma conjunção de dois fatores: o planeta estará no ponto de sua órbita mais distante do Sol ao mesmo tempo em que se oporá a ele tendo como referência a Terra. Assim estarão alinhados, respectivamente, Sol, Terra e Marte.

 

O Observatório Nacional promoverá, bem como outras instituições, noites de observação com telescópios profissionais e acompanhamento de especialistas. Detalhes da superfície de Marte serão analisados e fotos poderão ser feitas com nitidez acima do comum. O astrônomo amador também poderá se divertir. “Quem tiver um telescópio caseiro de pelo menos 10 cm de abertura já poderá identificar a calota polar daquele planeta”, exemplifica Rangel.

 

Para localizar Marte, procure a cor forte e o brilho
acentuado do planeta que nasce ao fim do dia a leste e alcança seu ponto mais elevado no meio da noite

E mesmo que não possamos, a olho nu, distinguir nada além de um ponto, o brilho intenso do astro será preponderante no céu. Com Vênus e Lua ocultados, a magnitude de Marte será a maior da paisagem noturna. Sua cor vermelho-alaranjada, conseqüência da alta concentração de óxido de ferro no solo, também chamará a atenção de quem elevar a visão aos céus. Mas nem todo o planeta é vermelho. “A superfície branca que observaremos com telescópios corresponde à calota polar de Marte”, explica Rangel.

 

Segundo o físico, a conseqüência mais importante da aproximação será o incentivo à pesquisa científica que o evento pode trazer. “Além do privilégio à observação e documentação, essa oposição é por si só um dos maiores estímulos à curiosidade de jovens alunos.”

Julio Lobato
Ciência Hoje on-line
27/08/03