O efeito estufa é um fenômeno natural de grande importância, pois garante a vida na Terra ao mantê-la aquecida. Mas o aumento da emissão dos gases responsáveis por sua ocorrência (vapor de água, dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, entre outros) causou um desequilíbrio energético na superfície do planeta, dando origem ao que se conhece como aquecimento global.
Embora o efeito estufa tenha se tornado bastante conhecido nos últimos tempos, pouca gente sabe que, além da queima de combustíveis fósseis, a criação de gado é um dos principais responsáveis pelo fenômeno.
Já se sabe que a flatulência, principalmente arrotos, de bois e ovelhas, eleva as emissões de gás metano (CH4) na atmosfera. Na Nova Zelândia, cientistas calculam que ela seja responsável por 90% das emissões de CH4 no país e mais da metade dos gases de efeito estufa.
Já a urina bovina gera óxido nitroso (N2O), outro gás-estufa de grande poder poluidor. Por essa razão, buscam-se formas de minimizar seus danos ao meio ambiente. Com resultados promissores, uma delas está em curso no Programa de Pós-graduação em Ciência do Solo da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A urina bovina é rica em ureia e, em contato com o solo, promove reações químicas que levam à liberação de N2O. Ao ganhar a atmosfera, esse gás bloqueia a saída de raios solares do ambiente terrestre, acentuando o efeito estufa.
Com um rebanho bovino estimado em mais de 200 milhões de cabeças, o Brasil é o principal emissor de óxido nitroso na América Latina e no Caribe, sendo responsável por cerca de 40% das emissões na região.
Para tentar reduzir esse percentual, os pesquisadores da UFPR vêm testando o emprego de uma substância que impede a formação de N2O. A dicianodiamida, mais conhecida como DCD, bloqueia as reações que levam à formação do gás poluente ao inibir o processo de nitrificação que age sobre o amônio liberado no solo via urina.
No estudo, que ainda está em fase experimental, os pesquisadores aplicam urina de vaca em porções do solo e em seguida as pulverizam com DCD. Medições feitas diariamente apontam a quantidade de N2O liberado no ambiente nessas condições. “O uso do inibidor diminui a emissão de óxido nitroso em até 20%”, conta a engenheira agrônoma Priscila Simon, responsável pelo projeto.
Uso na prática
O DCD já é utilizado para reduzir a emissão de óxido nitroso em outros países, mas sua eficiência no Brasil é questionada, devido principalmente às condições climáticas, que interferem no tempo de ação do produto no solo.
“Em regiões de clima temperado, a substância chega a reduzir as emissões em até 60%, como é o caso da Nova Zelândia”, explica Simon. Para melhor controle dos resultados no clima tropical e subtropical do Brasil, é preciso avaliar os fluxos de emissão durante as quatro estações do ano.
Para uso em larga escala nas fazendas, o DCD poderia ser pulverizado sobre os pastos. Além de minimizar a formação do gás, o inibidor ainda apresenta outra vantagem: impede a formação de nitrato no solo. Esse composto é responsável por poluir mananciais por causa de sua elevada capacidade de lixiviação no perfil do solo.
A pesquisadora lembra que ainda é preciso conhecer melhor a viabilidade econômica do uso comercial da substância. Se o percentual de redução da emissão do gás, que agora é de 20%, aumentar, talvez o uso comercial seja viável.
“Mas o estudo de viabilidade econômica não é o objetivo da pesquisa”, afirma Simon. “O trabalho realizado por nossa equipe concentra-se em avaliar a redução da emissão de óxido nitroso na área subtropical brasileira.”
O estudo coordenado pela equipe de Simon foi premiado em outubro último, durante a 1ª Conferência sobre Gases de Efeito Estufa em Sistemas Agropecuários da América Latina, que reuniu 80 participantes de 15 países em Osorno, no Chile.
Thaís Scuissiatto Macedo
Especial para a CH On-line/ PR