Mercúrio revisitado

Mercúrio fotografado por câmera acoplada à sonda Messenger. A imagem acima é fruto de uma montagem de três fotos tiradas enquanto a sonda se distanciava do planeta, após atingir o ponto de maior aproximação em 14 de janeiro de 2008 (foto: Nasa / Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins / Instituição Carnegie de Washington).

O sobrevôo recente do planeta Mercúrio por uma sonda pode ajudar os especialistas a conhecer melhor esse planeta. A missão Messenger, lançada pela agência espacial norte-americana (Nasa) em agosto de 2004, produziu uma série de imagens em janeiro deste ano, durante um primeiro vôo feito a cerca de 200 km da superfície. Ao todo, serão realizados mais dois sobrevôos antes que a sonda entre na órbita de Mercúrio, em 2011.

Clique na imagem para assistir a um vídeo produzido com imagens registradas por uma câmera na sonda Messenger, nos instantes em que ela se afastava de Mercúrio após sobrevoar o planeta em janeiro de 2008. O filme começa com a sonda a cerca de 34 mil km do planeta; ao fim da montagem, ela está a uma distância de 440 mil km de Mercúrio (crédito: Nasa / Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins / Instituição Carnegie de Washington).

A análise das imagens obtidas pela Messenger acaba de vir a público, em um pacote de 11 artigos publicados esta semana na Science. Os estudos foram realizados por uma equipe da Nasa e de diversas entidades norte-americanas, liderada por Sean Solomon, da Instituição Carnegie de Washigton (EUA). Os primeiros resultados permitiram traçar um panorama mais preciso da dinâmica do interior, da superfície, da atmosfera e do campo magnético do planeta, um dos menores do sistema solar, com apenas 4,8 mil km de diâmetro.

Esta é a segunda vez que a Nasa envia uma sonda para explorar Mercúrio – a primeira foi em 1975, quando a Mariner 10 visitou o planeta. A missão Messenger (sigla em inglês para Superfície, ambiente espacial, geoquímica e órbita de Mercúrio) sobrevoou e produziu imagens dos 45% da superfície do planeta visitados anteriormente pela Mariner 10 e de uma área suplementar de mais 21%. As novas imagens foram produzidas em melhor resolução e em diferentes condições de luz em relação às da década de 1970.

“Agora temos imagens de uma parte de Mercúrio que nunca tínhamos visto com a Mariner 10”, disse à imprensa Mark Robinson, pesquisador da Universidade Estadual do Arizona e autor principal de um dos onze artigos publicados na Science. “As imagens ainda estão incompletas, mas conseguiremos a outra metade que falta no próximo sobrevôo da Messenger, em 6 de outubro deste ano”.

Origem da variedade topográfica
Entre as revelações mais importantes da análise das imagens, está uma provável explicação para a origem da variedade topográfica de Mercúrio, que causou grande controvérsia entre os especialistas depois da missão da Mariner 10. Os dados colhidos pela Messenger indicam que falhas, crateras e outras formações geológicas identificadas na superfície do planeta teriam sido originadas principalmente pela atividade vulcânica, e não tanto por causa de impactos, como se especulava.

Foto de Mercúrio obtida no recente sobrevôo do planeta feito pela Messenger. A análise das imagens obtidas pela sonda permitiu inferir que falhas e crateras observadas na superfície do planeta foram geradas por atividade vulcânica. Clique na imagem para ampliá-la (foto: Science/AAAS).

Além disso, descobriu-se que o grande número de falhas geológicas pode ser atribuído à compressão sofrida por Mercúrio devido ao seu resfriamento. A compressão foi um terço maior do que a inferida pelos astrônomos a partir das imagens da Mariner. A sonda também analisou em detalhes o campo gravitacional do planeta e seus efeitos sobre a superfície e o interior de Mercúrio.

As imagens apontaram também a escassez de ferro entre os minerais presentes na superfície do Mercúrio. Devido à altíssima densidade do planeta, os astrônomos estimam que esse mineral seja responsável por cerca de 60% de sua massa e que seja encontrado com mais abundância na sua crosta e no manto. Ainda assim, a abundância desse mineral é menor que a de outros planetas rochosos do Sistema Solar (Vênus, Terra e Marte).

A Messenger irá sobrevoar mais duas vezes Mercúrio, em outubro deste ano e em setembro de 2009, antes de entrar na órbita do planeta, em março de 2011. De acordo com Mark Robinson, as imagens obtidas nas próximas etapas ajudarão a entender melhor a composição e a história do solo de Mercúrio. “Depois que a sonda entrar em órbita, poderemos usar todos os seus instrumentos e estudar em detalhes as rochas da superfície”.

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line
03/07/2008