Fone de ouvido e viva-voz não reduzem os riscos de falar ao celular e dirigir ao mesmo tempo. É o que conclui um estudo do Instituto Nacional Sueco de Pesquisas sobre Estradas e Transportes divulgado recentemente. O objetivo era analisar a influência da execução de outras tarefas no comportamento dos motoristas e entender como elas afetam a segurança no trânsito.
Motorista fala ao celular no trânsito do Rio de Janeiro (foto: Isabel Levy)
Para isso, 66 voluntários foram submetidos a testes em que deveriam passar por quatro situações distintas enquanto dirigiam num simulador: falar ao celular com fone de ouvido e viva-voz, com o aparelho em uma das mãos, receber e enviar mensagens SMS e assistir a DVDs. Eles dirigiram em cenários urbanos e rurais, a uma velocidade média de 50 e 90 km/h, respectivamente.
A concentração dos motoristas foi medida pela maneira como eles reagiam a eventos que os surpreenderam enquanto realizavam uma das atividades. Carros, ônibus, motos e bicicletas apareciam de repente e obrigavam o voluntário a desviar ou frear rapidamente — ao mesmo tempo em que, por exemplo, ele era forçado a utilizar a memória e tomar decisões ao telefone.
Foi constatado que realizar uma atividade simultânea à direção sobrecarrega o cérebro e afeta diretamente o desempenho do condutor. Para compensar o esforço mental, o motorista geralmente diminui a velocidade e mantém-se mais afastado do automóvel a sua frente. No entanto, o reflexo é retardado pelo acúmulo de tarefas e a capacidade de frear ou desviar numa situação-surpresa é claramente afetada.
Os participantes apontaram o assunto da conversa como principal influenciador e relataram não perceber grande diferença entre celulares convencionais e com viva-voz. Embora tenham preferido o modelo que deixa as mãos livres, confirmaram que ambos facilitam a dispersão no trânsito. Numa escala de 0 a 100, que media de forma crescente o acúmulo de esforço mental, classificaram em 52,7 o diálogo feito com viva-voz e em 57 o realizado num aparelho convencional.
O campo de visão também é prejudicado pelo uso de celular — com ou sem viva-voz. Durante a conversa, para compensar a sobrecarga de esforço mental, o motorista prioriza a área central do campo visual e negligencia as laterais, o que aumenta a oscilação do automóvel.
Os pesquisadores compararam ainda as interferências do uso de celular às causadas pelo álcool, na quantidade permitida por lei na Inglaterra (80mg/100ml). Constatou-se que os motoristas têm menor controle de velocidade e dão menos atenção às sinalizações de trânsito quando estão ao telefone, mas a oscilação lateral do automóvel é maior quando o condutor está alcoolizado.
A variação da velocidade e da estabilidade do veículo pareceu consciente à maioria dos participantes que seguravam o celular, e inconsciente aos que utilizavam viva-voz. De qualquer forma, o estudo concluiu que o controle da velocidade e do posicionamento do carro é invariavelmente afetado quando o motorista divide sua atenção. Não precisar segurar o celular, portanto, não é garantia de segurança no trânsito.
Isabel Levy
Ciência Hoje On-line
23/09/04