Pode ter surgido um novo caminho para tratar a doença de Chagas e a leishmaniose. No Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), foram desenvolvidos complexos metálicos que se mostraram eficientes no combate aos parasitas causadores das duas doenças e podem ser futuramente utilizados na produção de medicamentos.
Tais complexos foram obtidos a partir de íons metálicos abundantes na natureza, como zinco e cobre, encontrados inclusive no organismo humano, onde desempenham funções essenciais. Em testes de laboratório, quando ligados quimicamente a certas moléculas orgânicas especialmente desenhadas para essa finalidade, eles se mostraram ativos contra o parasita Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas. Análises preliminares também apontaram sua eficácia contra a Leishmania, que provoca a leishmaniose. Essas enfermidades atingem principalmente populações de baixa renda de países pobres e em desenvolvimento e recebem investimentos reduzidos para seu controle. Por isso, são classificadas como doenças negligenciadas pela Organização Mundial da Saúde.
Segundo a química Ana Maria da Costa Ferreira, que liderou as pesquisas, os resultados foram altamente positivos. Os pesquisadores prepararam em laboratório diferentes compostos com estruturas variadas e determinaram quais concentrações de cada um deles são capazes de matar 50% dos parasitas nas amostras analisadas, o que atesta sua eficiência. “Com os testes realizados, já temos diversas evidências sobre o mecanismo de ação desses compostos metálicos, que inibem proteínas específicas dos parasitas, ajudando a combatê-los”, explica.
Até o momento, somente testes in vitro foram feitos. Ainda é necessário realizar pesquisas com seres vivos para verificar possíveis efeitos colaterais dos complexos metálicos. Se os resultados forem positivos, são grandes as chances de os compostos se tornarem base para futuros medicamentos contra essas doenças. Um pedido de patente já foi depositado pela Agência USP Inovação junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial.
“Não temos nenhum estudo ainda sobre a aplicação em medicamentos, mas podemos afirmar que os compostos testados são potenciais candidatos a agentes farmacológicos”, diz Ferreira. Segundo a pesquisadora, ainda não há uma estimativa de custo para o desenvolvimento de fármacos a partir desses complexos metálicos, mas ela acredita que não seja algo caro. “As matérias-primas utilizadas para a preparação dos compostos são de fácil obtenção”, justifica.
Atualmente, o tratamento da doença de Chagas e da leishmaniose é feito com medicamentos injetáveis que costumam causar fortes efeitos colaterais, como dores de cabeça, tontura, perda de peso, náuseas e vômitos. Segundo Ferreira, o grupo de pesquisa da USP vem trabalhando para que os complexos metálicos recém-desenvolvidos não apresentem o mesmo problema. “Pretendemos aprofundar os estudos sobre possíveis mecanismos de ação desses compostos, visando identificar quais são os seus alvos biológicos preferenciais e assim evitar possíveis efeitos adversos nas pessoas”, acrescenta.
Lucas Lucariny
Ciência Hoje On-line