Uma tecnologia criada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) tem se mostrado um importante aliado no combate a motoristas irregulares e um reforço para a segurança dos locais em que foi implantada. Trata-se de um sistema de identificação de placas de veículos capaz de fornecer informações sobre o automóvel em tempo real. O Sistema Kapta, como foi batizado, já serviu de base para o desenvolvimento de quatro aplicativos para usos distintos, dois dos quais já estão em funcionamento e os outros, em fase de testes.

Detalhe da interface de um dos aplicativos desenvolvidos com o sistema Kapta. O método permite identificar automaticamente a placa dos veículos que entram e saem do campus da UFRJ (fotos: divulgação).

De acordo com Antonio Carlos Gay Thomé, engenheiro eletrônico e professor da UFRJ, os quatro aplicativos têm como base a tecnologia de reconhecimento de caracteres ópticos (OCR, na sigla em inglês), organizada em três etapas. “Em um primeiro momento, a imagem do veículo, em particular da placa, é capturada e digitalizada; em seguida, ocorre o reconhecimento dos caracteres que a compõem”, explica o professor. “Uma vez identificado esse número, o sistema faz consultas a respeito das condições do veículo, como impostos e multas atrasados.”

O sistema é composto, basicamente, por três dispositivos: um laço magnético que funciona como um detector de presença, uma câmera e um refletor, para auxiliar na captura de imagens noturnas, e um computador para o processamento das informações obtidas.

“O automóvel, ao passar pelo laço magnético, aciona a tomada de uma imagem da câmera, responsável por captar de forma contínua imagens de veículos que passem pelo local”, explica Thomé. “No computador, por meio de um conjunto de programas, a placa do veículo é automaticamente reconhecida e, a partir dela, o sistema busca em um banco de dados as informações por existentes sobre o veículo”.

Controle do acesso a áreas privadas
Um dos aplicativos – o Kapta Acesso – foi desenvolvido com o objetivo de controlar o acesso a áreas privadas. Para isso, são incorporados ao sistema original uma cancela e um identificador de impressões digitais. “Quando o morador chega, o sistema identifica a placa do carro”, conta Thomé. “Porém, para a cancela ser levantada e liberar a passagem, ele deve fornecer suas digitais, registradas previamente.”

O aplicativo que controla o acesso a áreas privadas inclui, além da câmera para filmar a placa do carro, um dispositivo de reconhecimento de impressões digitais, à esquerda.

O fornecimento das digitais, além de impedir a entrada de pessoas não autorizadas, ainda permite alertar a segurança do condomínio em caso de coação. Caso a vítima forneça as digitais de um dedo diferente do usual, ela aciona automaticamente um alerta geral, para que o condomínio realize os devidos procedimentos. Esse aplicativo vem sendo adotado em um condomínio do Rio de Janeiro desde 2005.

Já o Kapta Alerta Fixo, que foi testado na cidade de Bragança Paulista (SP), tem como objetivo monitorar e controlar o tráfego nas cidades. O princípio é o mesmo do sistema anterior, mas sem a cancela e o identificador de digitais. “Com ele, é possível saber em tempo real se o veículo captado pela câmera é roubado, se possui multas não pagas, impostos atrasados etc.”, explica o pesquisador. “Caso esteja em situação irregular, imediatamente um alerta é emitido para as unidades reterem o automóvel.”

Dois outros aplicativos ainda estão em fase de testes. O primeiro deles – o Kapta Alerta Móvel – permite o monitoramento de vias que não tenham o sistema instalado. Para isso, serão instalados na viatura responsável pela fiscalização uma câmera e um computador portátil conectado ao sistema central por transmissão de rádio. Já o Kapta Parking foi pensado para gerenciar os shoppings e estacionamentos públicos em geral.

Identificação de quadrilha
A tecnologia já deu origem também a um sistema de segurança híbrido, que combina características dos diferentes aplicativos, desenvolvido para monitorar o acesso ao campus da Ilha do Fundão (UFRJ) “Esse sistema, aliado a câmeras de segurança colocadas em alguns estacionamentos, já permitiu a identificação de uma quadrilha que roubava carros dentro do campus”, comemora o pesquisador.

O primeiro módulo desse sistema já está instalado nas principais entradas do campus da UFRJ. Com ele, tem sido possível identificar a quantidade de carros que entra e sai do campus e com qual freqüência. “O próximo passo é a instalação de cancelas, que funcionariam em horários de menor movimento e visados para ações criminosas, de acordo com um levantamento feito por nós, prevê Thomé. “Nesses períodos, as cancelas só se abririam se identificassem a placa do carro cadastrada anteriormente.”

Andressa Spata
Ciência Hoje On-line
31/03/2008