Mortalidade infantil ainda é problema em países pobres

A diferença entre a taxa de mortalidade infantil de países pobres e ricos está se tornando cada vez mais acentuada. Segundo dados do Unicef e do Banco Mundial, a queda nessa taxa entre 1970 e 2000 em países desenvolvidos foi de 71%; em países em desenvolvimento, a redução durante o mesmo período foi de apenas 41%. Essa disparidade faz com que 99% das mortes de crianças com até cinco anos ocorram atualmente em países pobres.

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Taxa de mortalidade infantil no Brasil de 1985 a 2001 (fonte: IBGE)

Para chamar a atenção das autoridades internacionais para o problema, os epidemiologistas César Victora, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e Jennifer Bryce, da Organização Mundial da Saúde (OMS), coordenaram a realização de uma série de cinco artigos. O trabalho, que contou com a participação de 23 pesquisadores de vários países, foi publicado na revista médica inglesa The Lancet e encaminhado para diversas instituições internacionais, como o Unicef, a OMS e o Banco Mundial. Os artigos ainda serão enviados para ministérios de saúde de todo o mundo.

“Mundialmente, havia uma falsa impressão de que o problema da saúde da criança estava resolvido”, disse Victora. “As verbas, que antes eram destinadas a doenças infecciosas como a diarréia e o sarampo, foram passadas para o combate à Aids, tuberculose e malária. É claro que precisamos também combater essas doenças, mas não em detrimento de outras enfermidades — as doenças de crianças matam mais do que essas três últimas combinadas.”

O abismo entre as taxas de mortalidade infantil de países ricos e pobres é enorme. Seis de cada mil crianças morrem antes de completar cinco anos em países desenvolvidos. Já nos países em desenvolvimento, a taxa passa para 88 por mil, e chega a 120 por mil nos mais pobres.

A situação da África é a pior em nível mundial. Segundo Victora, a taxa de mortalidade infantil nesse continente superava em 20 vezes a dos países ricos em 1990; em 2000, ela era 29 vezes maior. Ao contrário do que ocorre no resto do mundo, a taxa de mortalidade infantil de grande parte dos países africanos se estagnou e até aumentou em alguns deles. Isso se deve, em parte, à atual epidemia de Aids que toma conta do continente e, em parte, à diminuição do controle de doenças infecciosas.

No Brasil, houve grande diminuição na taxa de mortalidade infantil, que em 2000 era de 28,3 óbitos a cada mil nascimentos. Dados do Registro Civil confirmam o declínio do número de mortes de crianças com até cinco anos em nível nacional, de 128.745 por ano em 1985-7 para 75.990 em 1995-97, ou seja, uma redução de 41%. Porém, esses índices não são compatíveis com o potencial econômico do Brasil. Em 2000, o país ocupava a 85ª posição entre 192 países em estudo sobre a taxa de mortalidade infantil realizado pelo Unicef.

A maior causa de mortes infantis registradas no Brasil são as condições desfavoráveis para mães e bebês antes e depois do parto. Essas condições, chamadas perinatais, foram responsáveis por quase metade (48,5%) dos óbitos entre menores de cinco anos no Brasil. “Se a qualidade do pré-natal e do atendimento durante o parto melhorasse, sem dúvida a taxa de mortalidade infantil no Brasil cairia pelo menos pela metade,” aposta Victora.

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
13/08/03