(foto: Evandro Teixeira/COB)
A supremacia masculina nas provas de velocidade pode estar com os anos contados – pelo menos no que depender das estimativas de cientistas da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Uma análise estatística dos índices masculinos e femininos nos jogos olímpicos no último século indicou que as mulheres correrão os 100m rasos mais rápido que os homens nas Olimpíadas de 2156.
Nas últimas décadas, o tempo das mulheres tem diminuído em uma velocidade maior do que o dos homens. “Fizemos uma regressão linear para mostrar essa tendência”, explica Andrew Tatem, coordenador do estudo, à CH On-line . Segundo a análise, em 2156 o recorde masculino será de 8,098 segundos, enquanto o feminino será de 8,079 s. Os resultados foram publicados na revista Nature de 30 de setembro.
Mas o próprio Tatem sugere que os resultados devem ser interpretados com certa reserva: “Nosso artigo foi apenas uma forma bem-humorada e despretensiosa de mostrar as tendências que tínhamos observado nos 100m rasos”, conta. “Nosso objetivo foi sobretudo colocar esse assunto em discussão.”
No entanto, as características da fisiologia feminina e masculina podem impedir que a previsão se concretize. “Nas provas de velocidade, o atleta precisa ter pouca gordura no corpo e grande quantidade de massa muscular, que são características fundamentalmente masculinas”, pondera Emerson Silami Garcia, professor do Departamento de Esportes da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Além de serem mais fortes e terem menos gordura, os homens normalmente têm maior estatura, o que também ajuda nas provas de velocidade. “A maioria dos pesquisadores da área acredita que as mulheres só correrão mais rápido que os homens se houver alguma grande modificação hormonal ou genética”, diz Tatem.
A melhoria dos tempos femininos pode ser resultado do aumento recente da participação de mulheres nos esportes. Atualmente, as mulheres já podem ter treinamentos específicos e receber os mesmos salários que os homens. Há também quem defenda que essa melhoria seja conseqüência do uso de doping.
“Principalmente na década de 1980, houve grande diminuição dos tempos nas provas de atletismo e muitos recordes foram quebrados”, conta Garcia. “Mas, suspeita-se que muitos desses resultados tenham sido conseguidos com o uso de substâncias proibidas, sobretudo no caso das mulheres”. Muitos especialistas questionam, por exemplo, o recorde mundial dos 100 metros feminino – 10,49s –, obtido pela norte-americana Florence Griffith Joyner em 1988.
Os cientistas ainda não sabem até onde é possível superar os recordes atuais nos esportes. “No caso da prova 100 metros rasos, cujo tempo é muito curto, pode-se dizer que homens e mulheres já estão bem perto do limite”, conclui Garcia.
Eliana Pegorim
Ciência Hoje On-line
22/10/04