Músculo regenerado

Pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, encontraram na bexiga do porco uma forma de regenerar a musculatura humana. Ao implantar a matriz extracelular (material que dá coesão e flexibilidade às células) do órgão do animal em pacientes que perderam parte de músculos da perna, a equipe provocou a mobilização de células-tronco capazes de recuperar parte do tecido perdido. Além disso, por ser semelhante à matriz humana, o material não foi rejeitado pelo sistema imunológico. O estudo foi publicado no periódico Science Translational Medicine.

Após testes bem-sucedidos em camundongos com lesões na musculatura dos quadris, a técnica foi aplicada em cinco homens que perderam parte de músculos da perna – três militares atingidos por bombas e dois civis que sofreram acidentes de esqui. Tais pacientes perderam entre 58% e 90% do músculo afetado.

Um semestre após a implantação do enxerto, três dos cinco pacientes recuperaram pelo menos 25% da função do músculo afetado

O método consistiu em retirar o tecido cicatrizado ao redor da lesão e adicionar a matriz extracelular da bexiga do porco próximo a vasos sanguíneos que irrigam a área. Dois dias depois da cirurgia, os pacientes foram submetidos a uma rotina de exercícios físicos. Um semestre após a implantação do enxerto, três dos cinco pacientes recuperaram pelo menos 25% da função do músculo afetado.

De acordo com o médico e coautor da pesquisa Stephen Badylak, o material usado no enxerto é degradado após a implantação, liberando moléculas sinalizadoras que atraem células-tronco que circulam nos vasos sanguíneos próximos à lesão. “Os peptídeos liberados na degradação da matriz extracelular recrutam células-tronco do próprio paciente para o local da lesão que se diferenciam em células musculares”, explica. 

Até então, os tratamentos disponíveis para quem sofria lesões musculares extensas eram limitados. Ainda que todos os participantes tenham relatado melhorias durante a realização de atividades cotidianas, como caminhar e subir escadas, os pesquisadores determinaram como bem-sucedidas apenas as cirurgias que recuperaram pelo menos 25% da função muscular. 

 Confira o progresso dos pacientes

Sem célula, sem rejeição

Badylak destaca que, por não conter células do porco, o enxerto não é rejeitado pelo sistema imunológico do paciente. “A matriz extracelular da bexiga do porco não contém células e sua composição é semelhante à da matriz extracelular humana”, diz o pesquisador. “Regenerar um músculo por uma terapia que não exige a implantação de novas células torna o método mais barato e simples.”

O autor também defende que a terapia só funciona quando o pós-operatório é composto por uma rotina intensa de exercícios. “Quando a célula-tronco chega ao local da lesão, ela não sabe no que deve se transformar e poderia formar qualquer tecido, como cartilagem ou osso” explica. “No entanto, durante os exercícios, o paciente estica e contrai o músculo, informando à célula-tronco que ela deve se transformar em um tecido capaz de cumprir essa função.”

A simplicidade da técnica condiz com um dos principais objetivos dos autores do estudo: desenvolver um tratamento acessível a qualquer equipe médica. “Não pretendíamos criar uma terapia que só possa ser executada em nosso hospital universitário. O real valor está em qualquer cirurgião poder conhecer a ciência por trás da metodologia e obter em seus pacientes os mesmos resultados que tivemos nos nossos”, completa o pesquisador.

 

Mariana Rocha
Ciência Hoje On-line