Navegar é preciso

Um estudo sobre a biodiversidade oceânica em zonas profundas da porção sul do oceano Atlântico deve levar à descoberta de novas espécies da fauna e flora marinha. Essa é a expectativa de pesquisadores do projeto Mar-Eco: Atlântico Sul, criado em 2006 por cientistas brasileiros para integrar o Censo Mundial da Vida Marinha.

A equipe percorreu mais de 4 mil km durante 34 dias

Para realizar o levantamento, a equipe percorreu mais de 4 mil km durante 34 dias a bordo do navio russo Akademik Yoffe, cedido pelo Instituto Shirshov de Oceanologia.

No momento, os pesquisadores se dedicam à análise das centenas de amostras coletadas na região, que incluem desde microrganismos até baleias. No que diz respeito a bactérias, algumas – embora ainda não identificadas – já revelaram potencial de aplicação em várias áreas da indústria.

“Por se tratar de região pouco conhecida e jamais explorada, é bem provável que identifiquemos também novas espécies animais e vegetais”, acredita o oceanógrafo José Angel Alvarez Perez, coordenador do projeto. Perez é pesquisador do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina.

Animais marinhos
Animais marinhos capturados com auxílio de uma draga a cerca de mil metros de profundidade na borda da Fratura Romanche, zona equatorial do oceano Atlântico. Os organismos que vivem nessa profundidade são chamados bentônicos. (foto: Antonina Rogacheva)

Catalogação

A próxima etapa é definir a taxonomia e os dados genéticos do material coletado. Alguns grupos, como o de peixes, já estão com os estudos bastante avançados, enquanto outros, como os que compõem o plâncton marinho, vão requerer mais tempo de análise.

Perez evita falar em prazo para a conclusão do trabalho. Segundo ele, as espécies que vivem em regiões abissais dos oceanos, por serem pouco conhecidas, demandam cuidado especial de investigação. “É quase impossível levantá-la em sua totalidade.”

Veja Galeria com fotos de espécies coletadas e do navio oceanográfico utilizado na expedição.

 

Após a fase de catalogação, todo o material será enviado para o Sistema de Informação de Biogeografia Oceânica (OBIS, na sigla em inglês), um programa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que ficará responsável por administrar o banco de dados com todas as informações do Censo Mundial da Vida Marinha.

“Esse processo facilitará futuros estudos em diversas áreas de pesquisa”, afirma o pesquisador.

Além de pesquisadores de 12 instituições do Brasil, o projeto tem a colaboração de cientistas da África do Sul, Alemanha, Argentina, Chile, Namíbia, Noruega, Nova Zelândia e Uruguai.

Águas nunca dantes exploradas
Região do oceano Atlântico situada entre a América do Sul e a África, oAtlântico sul abriga uma cadeia submersa de montanhas comaproximadamente 2,5 km de altura e cerca de 60 mil km de extensão.

Essa cordilheira submarina, também chamada de Dorsal Atlântica, seformou há 200 milhões de anos com o movimento das placas tectônicas queseparavam os continentes Gondwana (que reunia a América do Sul, Áfricae Antártica) e Laurásia (atuais América do Norte, Europa e Ásia).

 

Katy Mary de Farias
Especial para a CH On-line / PR