Nem tão diversa assim?

Embora a Amazônia seja considerada uma área com altíssima diversidade de espécies de plantas e animais, o mesmo pode não ser verdade em relação às bactérias que habitam o solo. A acidez da terra amazônica seria a responsável por essa pequena variedade. Em contraste, regiões desérticas e com solos mais neutros seriam verdadeiros paraísos de diversidade bacteriana, de acordo com a conclusão de um estudo norte-americano publicado hoje. No entanto, especialistas brasileiros recomendam cautela na interpretação dos resultados.

Para determinar o grau de variedade genética da fauna microbiana, os pesquisadores analisaram o DNA ribossômico das comunidades bacterianas encontradas em 98 amostras de solo da América do Norte e Latina. “Embora não possamos identificar as espécies de bactéria presentes – há milhares em um grama de solo –, essa técnica nos dá uma idéia do grau de diversidade contido em cada amostra”, explica em entrevista à CH On-line o ecólogo Noah Fierer, professor do da Universidade do Colorado, em Boulder (Estados Unidos). Fierer é um dos autores do estudo, publicado na versão digital da revista científica norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences .
 
A análise dos dados também mostrou que o pH (índice de acidez) do solo é o melhor indicador da composição e variedade genética das comunidades de bactérias em escala continental. Segundo o ecólogo, se dois terrenos estão próximos fisicamente, outros fatores podem ser mais importantes que o pH do solo, mas, quando se compara amostras de uma grande área geográfica, o nível de acidez parece ser mais relevante.
 
“Nosso estudo indica que os microrganismos possuem padrões biogeográficos distintos daqueles observados em outros grupos de seres vivos”, conta Fierer. “Fatores que sabidamente influenciam plantas e animais, como a temperatura média anual, não parecem influir nas populações de bactérias.” A equipe pretende agora expandir o estudo e estudar outros organismos, como vírus e fungos.
 
O biólogo Alexandre Soares Rosado, chefe do Laboratório de Ecologia Microbiana Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é prudente ao avaliar as conclusões sobre diversidade, embora considere o estudo de boa qualidade. “Houve um pequeno número de amostras de cada região e a utilização de apenas uma técnica”, pondera. “Por isso, no caso da Amazônia, em particular, deve haver uma enorme variedade que não foi detectada pelos autores.”
 
Rosado acredita que o índice de pH pode não ser suficiente para indicar a diversidade de bactérias. “Embora a acidez do solo seja relevante, como demonstrado pelos autores, a definição de padrões de biogeografia microbiana em escala global deve depender também de outros fatores”, avalia.


Fred Furtado

Ciência Hoje On-line
10/01/2006