Novidade promissora contra a Aids

Uma equipe internacional acaba de obter um importante avanço no combate à Aids. Ensaios clínicos mostraram que a aplicação de terapia gênica em portadores de HIV é segura e tem efeitos positivos – embora modestos – sobre os pacientes. Os resultados indicam que a técnica, depois de aperfeiçoada, poderá se tornar uma alternativa ao tratamento com drogas antirretrovirais, que precisam ser administradas por toda a vida e geram vários efeitos colaterais.

A terapia gênica empregada pelo grupo consiste em inserir um novo gene em células-tronco sanguíneas (que dão origem a todas as células imunes do sangue) retiradas dos próprios pacientes. A sequência genética em questão impede a replicação do HIV ao agir sobre duas proteínas essenciais para o vírus. As células modificadas são então reintroduzidas na corrente sanguínea dos pacientes.

O estudo, liderado por Ronald Mitsuyasu, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA), foi realizado com 74 adultos entre 18 e 45 anos infectados com HIV, sendo que 36 deles fizeram parte de um grupo de controle, que recebeu células-tronco do sangue sem o novo gene. Os pacientes foram acompanhados por cem semanas e tiveram que interromper por dois períodos o tratamento antirretroviral a que eram submetidos.

Os resultados, publicados esta semana na revista Nature Medicine, mostram que, quatro semanas após a introdução das células-tronco modificadas, o novo gene havia sido integrado ao DNA das células sanguíneas periféricas de 94% dos pacientes. Esse percentual caiu progressivamente até atingir 7% na centésima semana.

Cerca de 48 semanas após o início dos testes, os pacientes que receberam as células modificadas apresentaram carga viral menor. No entanto, a diferença em relação ao grupo de controle não foi estatisticamente significativa.

A imagem de microscopia eletronica colorizada por computador mostra o HIV atacando um linfócito cultivado em laboratório (foto: CDC / C. Goldsmith, P. Feorino, E. L. Palmer, W. R. McManus).

Por outro lado, ao longo das cem semanas de testes, houve aumento significativo no total de linfócitos T CD4+ (células do sistema imunológico atacadas pelo HIV) no grupo que recebeu o novo gene. “A diferença na contagem média desses linfócitos entre os dois grupos na 47ª e 48ª semanas foi de 40 células por mm 3 de sangue e, na 100ª semana, 50 células por mm 3 ”, conta Mitsuyasu à CH On-line. Isso representa uma diferença de cerca de 3% no percentual médio de células CD4+ no sangue.

“O estudo mostrou a aplicabilidade do método para reduzir a replicação do HIV e melhorar os níveis de células T CD4+ em pacientes infectados com HIV quando a terapia antirretroviral é interrompida”, destaca o pesquisador.

Método seguro
Os ensaios clínicos atestaram a segurança do emprego da técnica em humanos: não houve morte nem complicações clínicas (cardiovasculares, renais ou hepáticas) ou infecções severas entre os participantes que receberam as células modificadas. Os pesquisadores também não detectaram o desenvolvimento de resistência viral durante o tratamento.

“Mas é preciso ter cautela, já que os efeitos de longo prazo dos genes introduzidos nos pacientes ainda não foram determinados”, alerta Mitsuyasu. Até agora, passaram-se, no máximo, cinco anos desde o início do tratamento do primeiro paciente. Os pesquisadores pretendem acompanhar os participantes do grupo que recebeu o novo gene por pelo menos 15 anos.

Mitsuyasu ressalta que a terapia gênica ainda está longe de ser tão efetiva e completa quanto a terapia antirretroviral usada atualmente. Embora tenha muitos efeitos colaterais e esteja associado ao desenvolvimento de resistência pelo HIV, o tratamento atual é muito eficaz no controle da replicação do vírus e em retardar a progressão da Aids.

Segundo o pesquisador, é preciso aperfeiçoar as técnicas de inserção de genes, talvez usando mais de um gene anti-HIV para atingir vários locais dentro do vírus, e encontrar melhores meios de permitir que as células modificadas geneticamente resistam e se desenvolvam nos pacientes. “Se conseguirmos tornar esse tratamento mais efetivo no controle do HIV, ele poderá um dia ser capaz de substituir ou reduzir a necessidade do tratamento contínuo com drogas antirretrovirais”, avalia.

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line
16/02/2009