Novo fôlego para o vídeo científico brasileiro

Novas perspectivas se abrem para a divulgação científica em meio audiovisual no país. Um premiado curta brasileiro sobre o mosquito Aedes aegypti foi o pivô de vários empreendimentos no setor, como a criação de uma produtora de filmes científicos no Instituto Oswaldo Cruz (IOC), projetos para a realização de filmes com colaborações internacionais e a possibilidade de sediarmos um festival internacional de filmes científicos.

Platéia assiste ao filme ‘O mundo macro e micro do mosquito Aedes aegypti ‘ durante o Mif-Sciences, realizado em junho em Havana, Cuba.

O vídeo ‘O mundo macro e micro do mosquito Aedes aegypti ‘ foi dirigido pelo fotógrafo científico e físico Genilton Vieira do Laboratório de Produção e Tratamento de Imagem do IOC. Seu laboratório foi credenciado pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) como uma produtora de filmes, para que o curta pudesse participar do festival internacional Mif-Sciences (que aconteceu em junho, em Havana, Cuba). E o vídeo não decepcionou: disputou com 116 filmes – incluindo algumas superproduções no estilo National Geographic – e ganhou o prêmio de segundo lugar. “Foi o único aplaudido de pé”, garante o autor.

A expectativa é que o filme tenha uma longa carreira internacional, já que a Fundação Oswaldo Cruz lançou um selo próprio para produção audiovisual – a ‘Fiocruz e vídeo’ – e conseguiu, com isso, o direito de comercializar filmes científicos. “Recebi mais de 600 pedidos do vídeo de instituições de todo o mundo e, com a comercialização, as pessoas físicas também poderão tê-lo”, diz Vieira.

O produtor do vídeo conta ainda que o prêmio trouxe bons frutos, como propostas de trabalho e convites para participar de outros festivais e cursos internacionais. Vieira recebeu pedidos para tomar parte de projetos na Argentina, Espanha, México e também no Brasil. As principais oportunidades vieram de Cuba – uma visa adaptar o seu filme à realidade cubana da dengue, e a outra consiste numa colaboração com a diretora Ana Margarida Moreno em um filme sobre a história e controle epidemiológico da doença nesse país.

Agora, seu grande esforço consiste em trazer para o Brasil em 2007 o festival Mif Sciences . “Com o festival no Brasil, teríamos vários filmes científicos exibidos em salas de cinema comerciais”, conta. “Assim, poderíamos motivar muitas pessoas a se interessarem por eles, o que seria minha maior contribuição ao país por ter ganhado esse prêmio”.

Conhecer para combater

Cena do filme ‘O mundo macro e micro do mosquito Aedes aegypti ‘, que impressiona pela beleza de suas imagens.

O documentário explica as diversas fases da vida do mosquito transmissor da dengue por meio de imagens (incluindo cenas inéditas no mundo científico), com trilha sonora original de Rigel Santos Romeu e quase nenhuma fala. Vieira acredita que, se a população conhecer melhor o mosquito, poderá combatê-lo com mais eficiência.

Por isso, o filme já foi exibido na emissora cubana TV Latina e em alguns canais restritos a poucas regiões do Brasil. Vieira gostaria que o vídeo também fosse exibido em rede aberta, mas reclama da falta de interesse desses canais por temas científicos. “É mais fácil divulgar com o pessoal de fora do que aqui no Brasil”, afirma. Mas enquanto não o vemos na TV, qualquer um com acesso à internet pode assistir ao filme no site do IOC.

As imagens impressionam pela beleza, o que é paradoxal, pois o personagem principal representa uma ameaça à saúde pública em várias regiões do Brasil. Vieira conta que o vídeo chegou a ofender uma espectadora. “Uma senhora reclamou que eu não poderia fazer um filme tão poético sobre um mosquito que deixou toda a sua família doente”, recorda. “Mas ela acabou se convencendo de que, ironicamente, essa é uma forma muito eficiente de combatermos a doença”.

Marina Verjovsky
Ciência Hoje On-line
02/08/2006