Novo método identifica soja transgênica com rapidez e precisão

 

Soja que recebeu genes para obter mais resistência à seca, em casa de vegetação (foto: Embrapa)

Detectar a presença de organismos geneticamente modificados (OGMs) em produtos agrícolas pode se tornar uma tarefa simples para os cientistas brasileiros. Um novo método, desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é capaz de caracterizar grãos com altíssima precisão em apenas trinta segundos. A técnica foi testada na soja, mas pode ser adaptada para analisar outras espécies vegetais, como milho, arroz ou algodão.

 

O procedimento é simples e requer somente um aparelho: um espectrômetro de massas. Esse instrumento, utilizado em diversos estudos químicos para analisar e identificar moléculas, determina a estrutura molecular das amostras de soja e as classifica de acordo com as diferentes massas moleculares – os cultivares geneticamente modificados, normal e orgânico apresentam espectros de massas distintos.

 

A caracterização dos grãos é feita a partir da análise de extratos de isoflavonas, substâncias típicas da soja que funcionam como marcadores químicos. Para isso, os pesquisadores devem, no espectrômetro, observar os compostos extraídos dos grãos, que permitem indicar rapidamente o tipo de soja analisada. 

 

Até agora, a detecção de OGMs é feita por técnicas da biologia molecular. Um possível método para a identificação desses grãos é o desenvolvido em 1999 na Universidade Federal de Viçosa (UFV), baseado na técnica conhecida como reação em cadeia da polimerase (PCR) (leia mais sobre esse método no Especial OGMs publicado em Ciência Hoje 203

).

 

Com a nova metodologia, o processo deve ser mais rápido e específico. “Enquanto os outros métodos de detecção trabalham com reações químicas inespecíficas, o espectrômetro de massas tira uma espécie de fotografia dos extratos de isoflavonas”, explica o cientista de alimentos Rodrigo Ramos Catharino, idealizador do projeto. “Assim, a comparação entre os tipos de soja é muito mais precisa.”

 

Os transgênicos são alvo de polêmica em todo o mundo. No Brasil, o plantio desses alimentos foi recentemente autorizado pelo governo, mas a legislação exige que os produtos com pelo menos 1% de OGMs tragam essa informação no rótulo.

 

“O comércio e a produção de transgênicos no Brasil já existem de fato e dificilmente irão se extinguir”, afirma Catharino. “Grande parte da população já se alimenta deles e o que o governo deve fazer é criar um padrão de qualidade, um selo de certificação, para valorizar o produto no mercado e proteger o consumidor”, diz.

 

Para isso, um método capaz de precisar rapidamente se um alimento é natural, orgânico ou transgênico é, obviamente, fundamental. No entanto, não há ainda perspectivas para o uso do espectrômetro de massas em escala industrial. Catharino, porém, acredita que em breve o governo, ou mesmo empresas privadas, irão adotar a técnica, pois agricultor e consumidor precisam se certificar da qualidade do produto.

 

Por ser uma técnica bastante simples, a equipe não a considera objeto de pedido de patente, pois qualquer laboratório que possua um espectrômetro de massas pode utilizá-la. O artigo que descreve o método e a pesquisa que possibilitou sua descoberta já foi redigido e deve ser submetido nas próximas semanas para publicação em uma revista internacional de alto impacto. Além de Catharino, estão envolvidos no projeto os pesquisadores Marcos Nogueira Eberlin e Leonardo Silva Santos.

Isabel Levy
Ciência Hoje On-line
28/10/04