Novo método promete combate à dengue mais eficaz

Uma nova maneira de controlar a incidência, freqüência e locais mais infestados pelo Aedes aegypti (vetor da dengue) está em fase de testes pelo Ministério da Saúde. O novo método foi desenvolvido por uma equipe do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG), em parceria com a empresa Ecovec.

Álvaro Eiras mostra o MosquiTRAP, armadilha que atrai as fêmeas do A. aegypti e permite capturar o mosquito para realizar seu monitoramento

A técnica conta com uma armadilha para o inseto: um vaso preto com água no fundo ( MosquiTRAP ) onde são depositadas pastilhas (chamadas AtrAedes ) com um odor que atrai as fêmeas. Na parede do vaso há um cartão adesivo capaz de prender o mosquito que, assim, não consegue depositar seus ovos. A análise do cartão permite verificar a quantidade de mosquitos na área da armadilha.

O poder de atração do AtrAedes vem de compostos formados numa infusão de folhas de capim fermentadas em água. Apenas alguns desses compostos têm odor que atrai as fêmeas grávidas do Aedes : estes são sintetizados em laboratório e compõem a pastilha, que tem propriedade atrativa de até três meses, enquanto a infusão natural de capim a perde em duas semanas. “O MosquiTRAP tem a vantagem de não demandar troca constante da substância atrativa”, garante o biólogo Álvaro Eiras, coordenador do projeto que desenvolveu a nova técnica.

Atualmente o Ministério da Saúde usa a pesquisa larvária para obter dados sobre a população de Aedes aegypti , ou seja, procura criadouros do mosquito em residências. Nessa operação, avalia-se apenas o número de larvas, sem que os ovos sejam considerados.

“A fêmea deposita de 90 a 95% dos ovos na superfície do criadouro e apenas 5 a 10% na água. Os que estão na água é que viram larvas e se tornam mosquitos”, explica Álvaro. “No período de chuvas, recipientes que acumulam água parada podem se transformar em berçário para uma maior quantidade de mosquitos.”

Isso acontece porque os ovos podem ficar em dormência por até 450 dias. Ou seja, mesmo os que são depositados na superfície do recipiente durante um período de maior seca podem virar mosquitos na próxima estação de chuvas.

Essa dormência pode gerar um erro na projeção da incidência do mosquito: como os ovos podem ter sido depositados há mais de um ano, o número de larvas que dão origem a novos insetos não é necessariamente proporcional à população de Aedes adultos na data da coleta de dados.

Após os testes para validação, é possível que o Ministério da Saúde adote o método proposto pela equipe da UFMG como oficial no monitoramento do Aedes . Um experimento realizado no Rio de Janeiro durante quatro meses deixou Álvaro otimista: o biólogo garante que o método dá resultados mais rapidamente .

Um software desenvolvido em conjunto com a armadilha permite que os dados coletados sejam inseridos imediatamente numa planilha eletrônica e enviados a uma central em Belo Horizonte. “São 24 horas entre a pesquisa de campo e o resultado, enquanto pelo método atual esse período é de um mês”, conta Álvaro. “A rapidez possibilita um planejamento mais adequado para eliminação dos focos da doença.”

Aline Gatto Boueri
Ciência Hoje On-line
22/09/04