Novo vírus aumenta eficácia de terapia gênica

 


Na terapia gênica para tratamento do câncer, genes supressores de tumor são inseridos num vírus, que os ‘carrega’ para dentro do núcleo das células cancerosas, que passam a produzir proteínas responsáveis por regular a sua proliferação (arte: National Institutes of Health).

Uma nova estratégia criada por pesquisadores brasileiros promete melhorar a eficácia da terapia gênica contra o câncer. A técnica consiste em inserir dois genes num vírus que os ‘carrega’ para dentro das células cancerosas, que passam a produzir proteínas responsáveis por regular a sua proliferação. O novo método se mostrou mais eficaz do que o procedimento convencional, pois provocou morte rápida de várias células cancerosas humanas em cultura ou inseridas em camundongos, além de ser mais vantajoso economicamente.

A técnica foi desenvolvida ao longo de três anos pela equipe da geneticista Eugenia Costanzi-Strauss, da Universidade de São Paulo (USP). O trabalho, ainda não publicado, foi apresentado durante a 21ª reunião da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe).

Os resultados obtidos até aqui são animadores: o vírus fabricado pela equipe provocou redução de 78% no tamanho de tumores (derivados de células de carcinoma de pulmão humano) desenvolvidos sob a pele de camundongos, apenas seis dias após ser injetado localmente. Nos experimentos com cultura dessas células, todas morreram três dias após submetidas ao tratamento.

A terapia gênica é apontada como um dos mais promissores campos da medicina do século 21. De acordo com dados publicados no Journal of Gene Medicine , havia até janeiro aproximadamente 760 protocolos clínicos experimentais de terapia gênica voltados para o tratamento de pacientes com câncer, dos quais cerca de 140 utilizam algum gene supressor de tumor. “Esses genes controlam a proliferação das células, pois regulam o seu ciclo de divisão e induzem o processo de envelhecimento e morte celular”, explica a pesquisadora.

Até aqui, usava-se um vírus para inserir cada candidato a gene terapêutico nas células. O trabalho inovador da equipe brasileira aumentou a eficiência da terapia, pois garantiu a ‘entrega’ e expressão dos dois genes por um mesmo vírus, fornecendo à célula uma segunda opção caso um deles não funcione. Além disso, o uso de um único vetor é mais viável comercialmente, caso a técnica venha a ser usada em larga escala no futuro.

Tratamento menos tóxico
Costanzi-Strauss acrescenta que o novo método, em associação com as terapias tradicionais (radioterapia e/ou quimioterapia), poderia extinguir o tumor e aumentar a sobrevida do paciente. Assim, a toxicidade do tratamento seria menor, pois a terapia gênica é menos agressiva do que os tratamentos tradicionais, que teriam sua dose reduzida. “Além disso, a terapia gênica representa uma ótima alternativa no tratamento de tumores que não podem ser removidos cirurgicamente por estarem localizados em regiões vitais”.

Contudo, a geneticista ressalta que a maioria dos estudos pára na primeira fase de testes clínicos e que no Brasil o caminho entre o laboratório e clínica é ainda mais longo. “Se a substância passar por todos esses testes, deve demorar cerca de 10 anos para chegar ao mercado”, afirma. “Porém, isso concretizaria o sonho de aplicar os conhecimentos da genômica e da biologia celular em prol da saúde da população.

Marina Verjovsky
Ciência Hoje On-line
21/09/2006