Novos alvos terapêuticos para leishmaniose


Leishmania vista por meio de micrografia eletrônica de varredura. (Crédito: Laurence Tetley / University of Glasgow).

A comparação do genoma de três parasitas causadores de formas diferentes de leishmaniose, doença que atinge cerca de 2 milhões de pessoas por ano no mundo, revelou que não há grande diferenciação entre seus genes. A análise, realizada pelo Wellcome Trust Sanger Institute, na Inglaterra, foi possível graças ao seqüenciamento do genoma de duas espécies de Leishmania – o mapeamento de uma já havia sido feito em 2005. O estudo, que reuniu 42 pesquisadores da Inglaterra, França e Brasil, sugere que apenas um pequeno número de genes do parasita exerce a maior influência sobre a forma clínica que a leishmaniose vai apresentar, permitindo o desenvolvimento de tratamentos específicos e mais eficazes.

Os pesquisadores seqüenciaram o genoma da L. infantum , responsável pela leishmaniose visceral (que ataca os órgãos internos), e o da L. braziliensis , causadora da leishmaniose cutânea (que atinge as mucosas e a pele). O material genético dos dois parasitas foi comparado entre si e com o da L. major , que também transmite a forma cutânea da doença e já havia sido mapeada.

Os resultados, publicados ontem na edição on-line da revista Nature Genetics , mostram que há apenas 200 genes diferentes em um universo de mais de 8 mil presentes no genoma de cada uma das espécies. Segundo o bioquímico Jerônimo Ruiz, responsável pela montagem do genoma da L. braziliensis no Departamento de Biologia Celular e Molecular e Bioagentes Patogênicos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, a organização dos genes dentro do genoma das três espécies de Leishmania também é muito parecida. “Acreditamos que esses poucos genes diferenciados são responsáveis pelas variações da doença”, disse o pesquisador à CH On-line . Até o momento, não se sabia por que os três tipos de leishmaniose, transmitidos da mesma forma – através do mosquito infectado –, apresentavam sintomas diferentes.

Com a descoberta de genes específicos em cada espécie, abre-se a possibilidade do desenvolvimento de novos tratamentos para a doença. “Podem ser criados medicamentos para combater as enzimas específicas codificadas pelos genes identificados, sem os efeitos colaterais dos produtos usados hoje”, explica Ruiz. Durante a pesquisa, foram encontrados apenas cinco genes específicos para L. majo r, 26 para L. infantum e 47 para L. braziliensis . Para efeito de comparação, os parasitas do gênero Plasmodium , que causam a malária, têm cerca de 20% de diferenciação no seu genoma.

A leishmaniose ameaça 350 milhões de pessoas em 88 países e sua incidência tem crescido nos últimos dez anos. Além do homem, ratos e cães são os mais afetados pela doença que, nos casos mais graves – como os de leishmaniose visceral –, pode levar à morte. Entre as doenças transmitidas por parasitas, a leishmaniose só perde em número de mortes para a malária. O principal autor do artigo, Christopher Peacock, do Wellcome Trust Sanger Institute, acredita que a pesquisa pode também dar origem a medicamentos mais baratos: “O tratamento da leishmaniose visceral é longo – dura quatro semanas – e caro – custa entre U$ 120 e U$ 150. Espera-se que as novas descobertas possibilitem formas de tratamento mais eficazes e menos custosas à população.”

Fernanda Alves
Ciência Hoje On-line
18/06/2007