Novos olhares sobre a saúde

Acabar com a extrema pobreza, reduzir em 75% as taxas de mortalidade infantil e diminuir a transmissão do vírus HIV são algumas das Metas do Milênio, objetivos gerais para um futuro melhor estabelecidos pelos 189 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) há 12 anos e que devem ser alcançados até 2015. Muitos países não vão conseguir cumprir o acordo, mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) já pensam em novas metas para depois desse prazo.

As duas instituições, com o apoio do governo da Suécia, anunciaram durante o II Simpósio Global sobre Pesquisas em Sistemas de Saúde, realizado na semana passada em Beijing (China), que vão promover consultas globais em mais de 50 paises, inclusive no Brasil, para identificar possíveis temas para as novas metas de desenvolvimento. Diferentes áreas serão abordadas, como energia, desemprego, educação e seguridade alimentar.

Durante o evento, foi apresentado o plano para as consultas sobre saúde. A perspectiva é que, a partir de dezembro deste ano, sejam promovidas conversas presenciais com representantes da sociedade civil, da academia, do governo e de empresas privadas na área de saúde.

Consulta pública
As consultas devem começar em dezembro deste ano. A ideia é iniciar com conversas presenciais com representantes da sociedade civil, da academia, do governo e de empresas privadas na área de saúde. (foto: Peter Ilicciev/ Fiocruz)

Nos encontros, serão discutidas questões predeterminadas pelas entidades e um relatório sobre as conversas será apresentado em março de 2013, quando membros da ONU devem se reunir para discutir os resultados. As inscrições para instituições interessadas em participar da iniciativa estão abertas desde o início de outubro, no site do projeto.

“É um processo genuinamente aberto e queremos que todos contribuam”, disse Anders Nordström, ex-diretor geral da OMS e ministro das relações exteriores da Suécia. “Nosso objetivo não é conseguir uma resposta final sobre as metas que devem ser estabelecidas, mas identificar problemas e oportunidades importantes que podem nos servir de guia.”

“Nosso objetivo não é conseguir uma resposta final sobre as metas que devem ser estabelecidas, mas identificar problemas e oportunidades importantes que podem nos servir de guia”

Além das consultas presenciais, enquetes on-line estão sendo feitas pelo site do projeto. Na página, qualquer um pode participar de foros de discussão sobre saúde e pesquisadores da área podem postar comentários e subir artigos publicados sobre o assunto que considerem importantes para o enriquecimento do debate.

O objetivo ambicioso do projeto, no entanto, não pareceu agradar aos pesquisadores de políticas de saúde presentes ao anúncio. O especialista em saúde pública David Sanders, da Universidade de Western Cape, na África do Sul, foi um dos muitos da plateia que criticaram a validade da iniciativa.

“Parece-me muito ingênuo acreditar que essas consultas possam mesmo contribuir nas discussões sobre as metas em saúde”, disse. “O tempo é muito pequeno para discutir questões tão importantes e que dizem respeito a um futuro tão distante. Além disso, tenho dúvidas sobre a real participação popular e acadêmica nesse processo.”

Sofia Moutinho*
Ciência Hoje On-line

* A repórter viajou à China a convite da OMS.