Novos usos para o vidro laminado

 

O vidro laminado, material normalmente rejeitado para reciclagem pela indústria vidreira, poderá ter agora um novo destino que não seja os aterros sanitários. Um projeto da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) prevê a produção de verniz e isolante para revestimento e proteção de pisos de madeira a partir do vidro laminado reciclado.

A foto do alto mostra as camadas de vidro constituintes do vidro laminado trituradas para dar origem ao verniz para pisos de madeira; na de baixo, vê-se o filme PVB separado do vidro laminado, pronto para ser usado na produção do isolante (fotos: Isabella Marini Vargas).

Esse tipo de vidro é utilizado na produção de pára-brisas de veículos e em portas, janelas e divisórias de vidro na construção civil. Ele é composto por duas finas chapas de vidro e, entre elas, uma camada de filme PVB (polivinil butiral), um polímero de alta elasticidade e excelente flexibilidade. Em caso de quebra, os cacos de vidro ficam presos ao PVB, o que reduz as chances de ferimento às pessoas.

Segundo a engenheira química Isabella Marini Vargas, que desenvolveu o projeto em sua tese de doutorado, os vidros laminados, depois de utilizados pela primeira vez, vão direto para os aterros sanitários, já que não podem ser reutilizados pela indústria, porque seus grãos são muito finos para serem reaproveitados (baixa granulometria). “Só no Brasil são descartados cerca de 120 mil pára-brisas por mês, o que representa 21,6 mil toneladas de vidro laminado despejadas anualmente nos aterros sanitários”, exemplifica.

Para produzir verniz e isolante a partir do vidro laminado, os pesquisadores usam chapas de vidro e PVB previamente separados e triturados em uma indústria. Em laboratório, o PVB é então diluído em álcool e misturado a outros materiais, de forma a dar origem ao isolante. Já o verniz é obtido ao se misturar o vidro em pó a resinas e solventes.

O verniz e o isolante são usados para proteger pisos de madeira contra as ações do tempo. O isolante confere aderência entre a madeira e o verniz. Este, por sua vez, a protege do desgaste em decorrência do trânsito de pessoas e do contato com objetos (resistência à abrasão), além de ser responsável pelo brilho do piso.

Baixo custo e qualidade
O uso de PVB proporcionou ao isolante uma aderência semelhante à obtida com resinas importadas, além de garantir a flexibilidade necessária para suportar as modificações sofridas pela madeira. Já o vidro em pó substituiu o óxido de alumínio na composição do verniz. “O resultado foi uma boa resistência à abrasão, boa transparência e boa estabilidade, ou seja, não há risco de o produto endurecer ou estragar durante sua permanência nas prateleiras de lojas ou supermercados”, conta Marini. O verniz e o isolante feitos a partir do vidro laminado têm ainda menor custo de produção, o que barateia o preço final.

Outra vantagem dos novos produtos é sua contribuição para a conservação do meio ambiente, já que são feitos a partir de materiais que demorariam anos para se decompor. “Esses são materiais nobres e de difícil disposição na natureza”, destaca Marini Vargas. “O PVB levaria 500 anos para ser assimilado e o vidro é praticamente indestrutível.”

O verniz e o isolante ainda não foram lançados no mercado, o que está previsto para acontecer daqui a um ano. Por enquanto, eles estão passando por testes na indústria em que Marini trabalha, situada em Cajamar, São Paulo.

Rachel Rimas
Ciência Hoje On-line
10/10/2007