O amor está on-line

Lançado no Brasil no último dia 11 de julho, o site de encontros The Ohhtel foi um sucesso instantâneo. Em uma semana, mais de 40 mil homens e 20 mil mulheres se cadastraram na página, destinada a promover relações extraconjugais.

O site não é o único a oferecer a possibilidade de um relacionamento amoroso pela internet e faz parte de uma tendência recente: a segmentação desse tipo de página virtual e a diversificação do perfil de seus usuários.

Essa tendência é uma das constatações do projeto P@r Perfeito, coordenado pela jornalista Cristiane Costa, professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Com o objetivo de traçar um panorama do amor na era virtual, um grupo de 25 estudantes passou o último semestre investigando relacionamentos na internet. “Eles agiram como antropólogos, recolhendo dados e interagindo na rede na forma de personagens”, pondera Costa, explicando que esse tipo de pesquisa de campo na internet é chamada de netnografia.

“A segmentação dos sites, muito maior hoje do que cinco anos atrás, pluralizou os tipos de usuários”

Cada aluno tinha um perfil predeterminado e uma missão. Durante a pesquisa, eles desenvolveram um diário de campo, com suas impressões e observações.

O estudo revelou que a ideia do ‘nerd’ solitário conectado em busca de companhia já não condiz com a realidade. “A segmentação dos sites, muito maior hoje do que cinco anos atrás, pluralizou os tipos de usuários”, diz a jornalista.

A pesquisadora afirma que o trabalho não buscou um resultado apenas quantitativo. “A ideia era fazer uma reportagem de imersão no universo dos sites de paquera. Nossa grande descoberta foi perceber quão ricos e variados são os perfis e alvos desses sites”, sintetiza.

Para todos os gostos

Para a pesquisa, foram infiltrados observadores em 20 sites em inglês e português, entre eles, E-harmony (que encontra parceiros por meio de algoritmos), Second Love (para quem procura amantes virtuais) e We waited (só para virgens).

Esse trabalho permitiu a análise da linguagem usada em cada um dos sites. “No caso do Amor em Cristo (voltado para evangélicos), o aluno teve que aprender o vocabulário usado pelo grupo”, exemplifica Costa.

Site Amor em Cristo
A intenção do site ‘Amor em Cristo’ é facilitar o encontro entre pessoas que desejam trocar experiências espirituais, estudar a Bíblia e se relacionar com outros cristãos. (imagem: reprodução)

Nessa página, as pessoas seguem um modelo bem definido de comportamento, com raras exceções. Esse padrão inclui idas à igreja uma vez por semana e a resposta “nem socialmente” para os tópicos ‘bebida’ e ‘cigarro’. “Mas a existência de modelos de conduta não se restringe a esse site”, acrescenta a jornalista.

Cultos e sem vícios

O estudo constatou que 100% das pessoas que buscam parceiros na internet afirmam não fumar. Além disso, 80% dos homens dizem ser fãs de música clássica e mais de 60% deles, amantes de esportes náuticos.

O estudo constatou que 100% das pessoas que buscam parceiros na internet afirmam não fumar

Segundo Costa, essas características são escolhidas por causa dos filtros que estão à disposição nas páginas e são usados para restringir o contato dos usuários às pessoas com as qualidades que procuram. “Ninguém quer estar associado a uma imagem negativa”, resume.

Os usos e a importância das fotos nesses sites de paquera também foram analisados no projeto. “Elas revelam as intenções dos usuários”, diz Costa. Os sites eróticos, por exemplo, privilegiam imagens de partes do corpo em detrimento de fotos do rosto. Segundo a jornalista, dados indicam que perfis com foto são dez vezes mais acessados do que aqueles que não têm imagens.

Para Costa, os relacionamentos virtuais são tão legítimos quanto as paqueras do mundo real. “O número cada vez maior de casamentos que começam na internet é uma prova disso“, diz. E brinca: “Os sites são como brechós, onde todo pé cansado encontra seu chinelo velho”.

Os diários de campo produzidos pelos estudantes estão acessíveis em um blogue. Até o fim do ano, Costa pretende disponibilizar os diálogos digitais obtidos durante o estudo – sempre protegendo a identidade dos usuários – em um aplicativo gratuito para leitores digitais, como o Ipad. O aplicativo terá também uma versão em inglês.

Para amantes da ciência
No jogo do amor virtual, nem os cientistas ficam de fora. No Scientific Singles, pesquisadores e entusiastas da ciência de todo o mundo podem fazer amigos e dividir sua paixão pelo conhecimento com uma alma gêmea e intelectual.

Saulo Pereira Guimarães
Ciência Hoje On-line