O desabrochar para a morte

Com até 18 metros de altura, a Tahina spectabilis é a maior palmeira já encontrada em Madagascar (fotos: John Dransfield).

Uma nova espécie de palmeira descoberta em Madagascar chama a atenção por seu tamanho gigante e seu comportamento reprodutivo ‘suicida’. A árvore pode atingir 18 metros de altura e morre pelo esgotamento de suas reservas de nutrientes logo depois de florescer e gerar frutos. Batizada de Tahina spectabilis, a palmeira inaugura um gênero até então desconhecido da ciência.

Descrita na edição deste mês do periódico Botanical Journal of the Linnean Society, essa é a maior palmeira já encontrada em Madagascar. Além da altura avantajada, ela tem um tronco que chega a 50 cm de diâmetro e enormes folhas em formato de leque com 5 m de diâmetro. A árvore pode ser vista inclusive em fotos de satélite.

O ciclo de vida dessa palmeira é bastante incomum. Ela cresce, provavelmente durante décadas, até que a extremidade de seu caule se converte em um conjunto de ramos com centenas de pequenas flores, que compõem uma estrutura única gigante em forma de pirâmide (chamada inflorescência). Essa estrutura, localizada no topo da árvore, acima das folhas, tem 4 m de altura e ramificações que chegam a 2,5 m de comprimento.

Cada flor, rica em néctar, pode ser polinizada e gerar frutos. Mas, assim que a palmeira frutifica, sua reserva de nutrientes começa a se esgotar lenta e completamente nos meses seguintes, até que a árvore inteira entre em colapso e morra. Essa tendência ‘suicida’ é observada em menos de 5% das palmeiras.

Os detalhes das flores e dos ramos da inflorescência sugeriram que se tratava de uma nova espécie de um novo gênero da tribo de palmeiras Chuniophoeniceae, o que foi confirmado por análises de DNA. A árvore pertence a uma linhagem evolutiva que nunca havia sido registrada em Madagascar. Os quatro gêneros do grupo Chuniophoeniceae se distribuem desde a Arábia até a China e a Tailândia, passando por toda a Ásia.

Gigante rara

Uma estrutura gigante, com 4 m de altura, composta por um conjunto de ramos com centenas de pequenas flores, se forma no topo da T. spectabilis em sua fase reprodutiva. Após a frutificação, a árvore morre.

Segundo o co-autor do estudo William Baker, pesquisador dos Reais Jardins Botânicos de Kew, em Londres (Reino Unido), a T. spectabilis é uma palmeira muito rara. “Apenas 90 indivíduos foram encontrados em um pequeno pedaço de floresta de 250 m de comprimento”, contou ele à CH On-line.

A nova espécie foi descoberta no pé de um afloramento de calcário no distrito de Analalava, no noroeste de Madagascar. A área, cujo clima é classificado como quente e seco, tem oito meses de seca por ano e uma temperatura anual média de 27ºC. As árvores crescem em solo fértil profundo em uma região que é inundada periodicamente.

Os pesquisadores não esperavam encontrar uma nova espécie – muito menos um novo gênero – de palmeira nessa região. Embora Madagascar tenha uma alta diversidade de palmeiras, com quase 200 espécies conhecidas, a maioria delas ocorre no cinturão de floresta tropical localizado no leste da ilha. “Se uma palmeira tão gigante e bem definida pôde se manter desconhecida até agora, isso sugere que há muito mais biodiversidade para se descobrir, mesmo em grupos bem estudados com as palmeiras”, ressalta Baker.

A análise do potencial de distribuição da T. spectabilis identificou a região costeira noroeste de Madagascar como único hábitat adequado à espécie naquela ilha. A estimativa pequena de área deve-se à alta sensibilidade dessa palmeira a variações de temperatura, que ocorrem no interior da ilha durante a estação mais fria e seca do ano.

O baixo número de espécimes encontrados, o hábitat restrito e o fato de o florescimento e a frutificação da T. spectabilis parecerem uma ocorrência rara impõem significativos desafios para a conservação da espécie. Muitas das palmeiras de Madagascar já estão seriamente ameaçadas de extinção, principalmente por causa da perda de hábitat. Atualmente, apenas 18% da vegetação nativa do país permanecem intactos.

“Nosso principal objetivo é trabalhar com a população local e autoridades de Madagascar para conservar essa espécie ameaçada”, diz Baker. Os pesquisadores pretendem desenvolver métodos para colher e vender as sementes da T. spectabilis e disseminá-la para jardins botânicos e herbários ao redor do mundo. “Além de aumentar a renda da população, esperamos que a venda de sementes possa ser um incentivo extra para proteger o hábitat dessa palmeira”, completa.

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line
23/01/2008