O dia da marmota

Temperaturas aumentam, o meio ambiente se transforma e os animais reagem. Algumas espécies sofrem com as mudanças climáticas, vivendo o drama da redução de seus habitats e do perigo de extinção. Mas outras podem até se beneficiar. É o caso das marmota-da-barriga-amarela (Marmota flaviventris) – justo a marmota, que os americanos acreditam capaz de prever a duração dos invernos.

Pesquisadores britânicos e americanos estudaram dados sobre uma população dessas marmotas no Colorado, nos Estados Unidos, entre 1976 a 2008, e observaram que elas cresceram significativamente nesses 33 anos.

Invernos mais amenos fazem marmotas despertar mais cedo de seu período de hibernação

Os resultados foram apresentados na Nature desta semana, cuja capa foi ilustrada por uma marmota gorduchinha.

A conclusão da equipe, liderada por Arpat Ozgul, do Imperial College, em Londres, é que os invernos mais amenos fizeram com que as marmotas passassem a despertar mais cedo de seu período de hibernação.

Consequentemente, tiveram mais tempo para se reproduzir e engordar antes do inverno seguinte – o que por sua vez as tornou mais aptas a sobreviverem às estações frias, fazendo com que os indivíduos adultos vivessem por mais tempo.

Boom populacional

Marmota
Em 33 anos, pesquisadores viram peso média da marmota aumentar em quase 400 g e o crescimento da população passar de 0,5 para 14 indivíduos ao ano (foto: Raquel Monclus).

Durante a primeira metade dos estudos, uma marmota de dois anos ou mais pesava em média 3,09 kg. Mais recentemente, esse peso aumentou para 3,43 kg.

Entre 1976 e 2001, o crescimento da população acontecia devagar e sempre: a cada dois anos, uma marmota se somava ao grupo. A partir de 2001, a dinâmica populacional sofreu uma mudança drástica, com um boom de 14 novos indivíduos por ano.

Para melhor compreender o impacto das mudanças climáticas sobre populações naturais, os pesquisadores defendem uma abordagem interdisciplinar, com a criação de modelos populacionais que levem em consideração a fenologia (ramo da ecologia que associa fenômenos biológicos e climáticos), processos evolutivos e ecológicos, bem como fisiologia e genética molecular.

“Só assim biólogos poderão prever as implicações de diversos cenários climáticos para a viabilidade de populações e para a biodiversidade”, diz Marcel Visser, do Instituto de Ecologia da Holanda, que comentou o estudo para a Nature.


Larissa Rangel

Ciência Hoje On-line