O lado B da ciência

Grandes descobertas, quebras de paradigmas, fórmulas geniais. Esses são alguns dos feitos que o senso comum costuma considerar dignos de registro na história das ciências, que seria regida sobretudo pela razão e pela objetividade.

No entanto, os episódios reunidos no livro Uma história sentimental das ciências , do físico francês Nicolas Witkowski, demonstram ao leitor que grandes idéias capazes de mudar o rumo das ciências nem sempre surgem enquadradas nos esquemas rigorosos que caracterizam a produção acadêmica e muitas vezes são inicialmente desprezadas pela comunidade científica.

Após uma breve introdução do autor, o livro traz 35 capítulos, cada um dedicado a um personagem que, à sua maneira, contribuiu para o desenvolvimento da ciência. A maioria das histórias se passa no período que se seguiu ao Renascimento (séculos 16 e 17), quando as crenças fundamentadas no misticismo característico da Idade Média começaram a perder força, com novas descobertas nos campos da navegação, astronomia e mecânica.

Nas páginas dessa obra, cientistas reconhecidos, como os britânicos Isaac Newton (1642-1727) ou Charles Darwin (1809-1882), convivem com nomes bem menos conhecidos, igualmente inquietos e perspicazes. A busca incessante por explicações de fenômenos naturais é comum a todos. No entanto, ela é movida por motivos e procedimentos distintos em cada caso.

O capítulo sobre Newton, por exemplo, sugere que a leitura de obras infanto-juvenis e a reprodução compulsiva de trabalhos práticos sugeridos por elas (como a construção da maquete de um moinho de vento) tiveram influência decisiva na formulação das teorias revolucionárias que ele proporia anos mais tarde.

Uma relação bem-sucedida entre paixão e ciência estaria por trás também das idéias de Darwin. No capítulo dedicado a ele, descobrimos que as pesquisas que culminariam na teoria da evolução das espécies tiveram início durante obsessivas expedições de caça, nas quais o naturalista colecionava e classificava diferentes animais, vegetais e minerais.

O caráter pitoresco e bem-humorado dos relatos apresentados é o foco da narrativa de Uma história sentimental das ciências : o livro não tem a preocupação de situar com exatidão a contribuição de cada personagem para a história da ciência “oficial”.

O convívio entre a ciência e outras formas de conhecimento — como religião, esoterismo ou alquimia — é apresentado pelo livro como condição frutífera para a realização de novas descobertas. A reprodução de ilustrações e textos de época em cada capítulo enriquece a obra, que deve agradar tanto a historiadores da ciência como a leigos interessados pelo assunto.

 

Uma história sentimental das ciências
Nicolas Witkowski (trad.: André Telles)
Rio de Janeiro, 2004, Jorge Zahar Editor
Fone: (21) 2240-0226
213 páginas – R$ 34,00

Julio Lobato
Ciência Hoje On-line
14/06/04