James Bond se depara com uma tarântula
no filme 007 contra o satânico Dr. No
(foto: reprodução)
É possível perder o medo excessivo de aranha: isso é o que indicam os resultados preliminares de um estudo feito pela pesquisadora Laura Carmilo sob orientação do professor Francisco Javier Ropero, da Universidade de São Paulo (USP).
A primeira fase de testes para tratamento da aracnofobia contou com quatro voluntários, dos quais três foram curados. No período de um mês os pacientes foram submetidos a dois testes de aproximação comportamental ‐ um no início do tratamento e outro no final ‐ nos quais eram colocados diante de uma caixa com aranhas, para comparar de que maneira reagiram ao tratamento.
O procedimento diferencial do tratamento desenvolvido por Javier Ropero consiste em submeter o paciente à exposição de figuras que não possuem relação direta com aranhas, mas que podem se relacionar a elas no inconsciente. Assim, o método trata a fobia sem causar sofrimento ao paciente.
A terapia incluiu também questionários nos quais os voluntários avaliam a maneira como encaram seu medo. O paciente, além disso, é submetido a testes com sensores que medem sua resposta fisiológica a figuras relacionadas a aranhas.
Agora a pesquisa entra na segunda fase de testes, com voluntários que serão tratados da mesma maneira, com uma diferença: eles serão submetidos agora a testes semanais para medir a evolução da fobia. Esses testes consistem em medir a distancia de uma aranha a que os paciente conseguem ficar relaxados.
O medo excessivo é desencadeado pela conexão entre duas estruturas cerebrais: o tálamo e a amígdala. O primeiro recebe todas as informações sensoriais, com exceção do olfato, e, segundo as pesquisas de Javier, divide cada informacao sensorial em categorias para um almacenamento mais eficiente ao nivel do córtex cerebral.
O tálamo envia à amígdala o conjunto de informações que identificam a aranha e é lá que, somadas, se atingirem um limiar de voltagem específico usado como padrão, disparam a amígdala. Daí os sintomas típicos de reações de fuga e ataque são ativados, como taquicardia, sudorese e elevação da pressão arterial.
O procedimento terapêutico age justamente na ligação entre o tálamo e a amígdala, com base em um modelo computacional que simula o funcionamento das duas estruturas. Apresentam-se ao paciente figuras que possuem alguma semelhança com as categorias determinadas pelo tálamo para identificação de aranhas, porém sem nenhuma relação com elas. Isso faz com que o tálamo dispare, mas a amígdala não, pois não reconhece a figura como perigo. A não-resposta da amígdala ao tálamo enfraquece a ligação entre os dois e atenua a fobia.
Segundo Javier, o tratamento pretende provocar uma resposta inconsciente do paciente: ele não se assusta mais tanto com a figura da aranha sem se dar conta disso, pois o tálamo e a amígdala agem inconscientemente, antes que a informação chegue ao córtex cerebral, que é quando o indivíduo toma consciência do seu medo. “O paciente pula enquanto o processo se dá no tálamo e na amígdala. Quando vai para o córtex é que ele faz a avaliação real do perigo”, explica o professor.
Os voluntários que desejem participar da segunda fase da pesquisa não devem fazer uso contínuo de medicamentos psicotrópicos, como tranqüilizantes ou antidepressivos. Para se candidatar ao tratamento, basta mandar e-mail para fjavier@usp.br .
Aline Gatto Boueri
Ciência Hoje On-line
26/11/04