O melhor para o coração

 

Ao contrário do que pode indicar o senso comum, a cirurgia nem sempre é o tratamento mais recomendável para pacientes que sofrem de doenças coronarianas. Um estudo recente do Instituto do Coração (Incor) indica que, em muitos casos, a terapia com medicamentos pode ser mais vantajosa. A conclusão surgiu do monitoramento, ao longo de cinco anos, de mais de mil cardiopatas que foram submetidos à intervenção cirúrgica, ao tratamento clínico ou à angioplastia. Os resultados foram divulgados no início de março no Congresso Americano de Cardiologia e serão relatados na próxima edição do Livro Anual de Cardiologia .

 
A maior parte dos pacientes monitorados pelo estudo tinha mais de 60 anos. Seu quadro clínico era caracterizado em geral pela obstrução de mais de uma artéria, dor no peito (angina) estabilizada e ventrículo direito com capacidade de contração preservada. Nesses casos, as doenças coronarianas costumam ser tratadas com métodos que removem as seqüelas da obstrução arterial, como medicamentos que promovem a vasodilatação, cirurgias para revascularizar o músculo cardíaco ou a angioplastia – técnica que consiste na introdução nas artérias de um dispositivo que facilita a circulação do sangue (chamado stent ).

O estudo do Incor avaliou separadamente os pacientes diabéticos e não diabéticos. Neste segundo grupo, os resultados mostram que o índice de mortalidade é menor (2%) entre os pacientes submetidos ao tratamento clínico. Esse número foi de 3% entre os que foram operados e de 5% entre os que passaram pela angioplastia. O tratamento clínico tem ainda a vantagem adicional de implicar despesas menores para o paciente.
 
Os resultados foram diferentes, no entanto, no caso dos pacientes diabéticos, que representam cerca de um terço do total avaliado no estudo. Nesse caso, a mortalidade foi maior entre aqueles que apenas tomaram medicamentos (8%). O índice foi de 3% para os pacientes submetidos à cirurgia e à angioplastia. Para os diabéticos, a cirurgia de revascularização do miocárdio é a terapêutica mais indicada, já que a necessidade de intervenções adicionais é maior nos casos de angioplastia.
 
Pacientes diabéticos requerem maior cuidado, já que a cardiopatia pode ser apenas uma das complicações decorrentes desse distúrbio metabólico. “O diabetes apresenta um ritmo acelerado de desenvolvimento e afeta rapidamente ‘órgãos nobres’ como coração, rins e cérebro”, explica o cardiologista Whady Hueb, coordenador do estudo. “Entre os diabéticos há casos de neuropatias, quando não se sente angina, o que torna mais difícil a detecção de sintomas em um tratamento de prazo mais longo, como o clínico.”
 
Apesar de associada a uma mortalidade mais alta, a angioplastia é uma alternativa indicada nos casos em que há risco cirúrgico ou quando o paciente é jovem. O próximo passo do trabalho será avaliar o desempenho da angioplastia realizada com stents recobertos de drogas nos diabéticos.
 

De acordo com Hueb, o estudo indica a necessidade de uma adequada avaliação do paciente antes de um tratamento mais invasivo. Além dos tratamentos avaliados no estudo, o cardiologista aponta algumas medidas que ajudam a retardar a evolução das doenças coronarianas. “É imprescindível controlar fatores de risco: adotar uma dieta alimentar saudável, praticar exercícios físicos regulares e abolir o fumo.”


Lia Brum
Ciência Hoje On-line
29/03/05