Pelada de fim-de-semana. Amigos reunidos. Cerveja, suor, churrasco e gols. Mas também cãibras, dores musculares, tornozelos machucados, tonturas e hipertensão. Pois é: o famoso futebol da turma dos quarentões, que trabalha durante toda a semana e só pratica exercícios uma vez por semana, pode sair como um tiro pela culatra.
Os atletas de fim-de-semana estudados tiveram freqüência cardíaca média acima do limite de segurança (foto: Stela Murgel / Unifesp)
“O estresse cardíaco a que eles se submetem durante as partidas é muito alto, excede os limites de segurança e torna a prática esportiva um risco.” É o que defende a dissertação de mestrado de Roberto Carneiro, defendida no Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte da Universidade Federal de São Paulo.
Roberto realizou testes para verificar a aptidão física de 32 homens com idade média de 41,8 anos e que jogam futebol society uma vez por semana. Eles responderam a um questionário sobre hábitos como tipo de alimentação e freqüência de atividades físicas; 90% foram classificados como sedentários (praticam exercício físico menos de duas vezes por semana). Além disso, para determinar a capacidade física dos jogadores, foram realizados testes em esteiras.
A freqüência cardíaca (FC) máxima dos voluntários foi calculada em 180,5 batimentos por minuto (bpm). A FC máxima é o limite a que cada indivíduo pode chegar durante um esforço físico. “No momento em que o atleta chega à exaustão e não consegue mais realizar a atividade, anota-se sua freqüência cardíaca”, esclarece Roberto.
Estudos recentes avaliam que uma atividade física segura, sobretudo para não-atletas, é aquela em que o indivíduo chega a 85% da FC máxima. “No caso do grupo estudado, como a FC máxima foi de 180,5 bpm, o limite máximo de segurança é de 153,4 bpm.”
Os testes realizados também serviram para se precisar a FC de limiar anaeróbio — limite a partir do qual o indivíduo passa a sofrer os efeitos da acidose metabólica, provocada pelo acúmulo de ácido lático nos músculos (o fenômeno causa dor e dificuldade em continuar a atividade e facilita a ocorrência de lesões). A FC de limiar anaeróbio dos peladeiros foi calculada em 137,4 bpm.
Mas de nada adiantariam os cálculos se os craques não fossem avaliados dentro das quatro linhas. Para fazer isso Roberto acompanhou os batimentos cardíacos dos jogadores em uma partida de 20 minutos. “Os atletas de fim-de-semana trabalharam em média a 155,7 bpm, e alcançaram picos de 180, 190 e até 211 bpm. Ou seja: acima do limite de segurança de 153,4 bpm, e muito acima do limiar anaeróbio de 137,4 bpm.”
Essa prática indevida do esporte pode provocar problemas como dores, entorses, distensões e até ataques cardíacos. “O exercício físico tem que ter por objetivo promover saúde e melhorar a qualidade de vida, caso contrário é melhor não fazê-lo”, afirma Roberto.
Contudo, ainda é possível sacudir a poeira e dar a volta por cima. “O ideal é que esses indivíduos passem a realizar mais de dois dias de atividade física por semana, (natação, caminhadas, ciclismo, dança) para adquirirem um condicionamento melhor para as partidas.”
Denis Weisz Kuck
Ciência Hoje on-line
03/02/03